
Os irmãos Coen criam um maravilhoso western moderno, nesse favorito ao oscar de melhor filme em 2008. O filme, uma metáfora para a degradação moral atual, funciona também como uma saga de suspense, drama e comédia, enfim, tudo dos Coen está lá. Os personagens interioranos e caipiras também estão lá, assim como em Fargo, Gosto de Sangue, etc, etc.
A história segue Llewelyn (o excelente Josh Brolin), quando este acha um cenário de um massacre no que parecia ter sido uma negociação de drogas. Seguindo os rastros da destruição Llewelyn encontra mais um cadáver e uma maleta recheada de dinheiro. Ele volta para casa com o dinheiro, mas a noite é inquietado por um pensamento, algo que deixara de fazer. Movido por um gesto nobre ele volta ao local do massacre, mas, desta vez é surpreendido. É assim que a história tem início.
Os donos do dinheiro o querem de volta, obviamente, a todo custo, e para isso colocam o assassino chamado Chigurh atrás de Llewelyn. O assassino é vivido por Javier Barden, numa atuação mais do que perfeita. Tommy Lee Jones vive o xerife Ed Tom, que deseja a todo custo parar o assassino e sua trilha de sangue, e proteger Llewelyn.
A história se desenvolve a partir daí, ou, melhor dizendo, os personagens se desenvolvem daí. Não existem muitas explicações em termos de trama, como, por exemplo, a ligação entre os donos do dinheiro e Chigurh, já que não há nada implícito que os conecte. O filme também não oferece informações sobre a morte de um desses personagens, que acontece subitamente próximo do final. O paradeiro do dinheiro também perde importância no meio do caminho. A questão para os Coen é transformar os personagens em ensaios vivos da temática principal do filme: a violência. E acredito que também a ganância, ainda que essa segunda temática tenha menos importância. Vale lembrar no entanto, que bem no final, quando um dos personagens oferece dinheiro a um adolescente, em troca de uma camisa, o menino responde cordialmente que não pretendia receber dinheiro em troca de sua ajuda. Mas assim que dá as costas o outro menino também presente na cena requer parte da recompensa. A cena da camisa ocorre duas vezes no filme, aliás, com conclusões semelhantes.
Mas não sei se concordo com o ponto de vista do filme, de que o mundo em que vivemos não reserva mais lugares para os ‘velhos’, os que teimam em sonhar nostalgicamente com épocas douradas e pacíficas. Acredito também que os próprios irmãos Coen não crêem tão inocentemente nessa hipótese. Afinal, escolher uma estética western para esse filme cria obviamente a característica de remeter a um tempo passado em que a violência era a lei. Por mais que naquela época houvesse um código moral implícito calcado na masculinidade e ‘bravura’.
Creio mais num Chigurh que encara o mal, mas o mal humano, este sim, atemporal e sempre presente. Todavia, há que se acreditar que críticas podem ser feitas a falta de atitude humana em aplacar esse mal, em incentivá-lo cada vez mais. Mas não acho, de maneira nenhuma, que vivemos em um tempo de recorde de imoralidade e violência. A Roma antiga talvez não me deixaria mentir. A barbárie da Idade Média também não testemunha a favor de tal idéia. Lembro-me sempre, quando este assunto vem a tona, da frase do personagem Remy em Invasões Bárbaras, quando conversando com uma freira ele diz que a igreja católica massacrou milhões de índios no século XVII, muito mais do que as mortes do século XX. Isso tudo a machadadas, sem bombas atômicas e AK-47. A verdade é que o espírito humano não precisa de ajuda para a violência, mas o avanço das leis e da racionalidade o refreiam. Não somos perfeitos, mas quem sabe um dia não estejamos mais próximo? É no que quero acreditar.
4 comentários:
Adorei seu comentário acerca da violência e a visão pessimista que o roteiro dos Coen pões sobre os acontecimentos do filme. O último parágrafo de sua análise inclusive, emocionou-me bastante, principalmente pelo fato de eu acreditar sim que a humanidade pode caminhar pra o rumo da paz dentro de algum tempo e ver que violência gratuita, sem causa, não tá com nada!
Já o filme em si, me chamou muita atenção, dos Coen foi o melhor que vi, pois não gosto nadinha de Fargo, para muitos o mais criativo. Javier Bardem está especialmente bem, e o Josh Brolin também entregou uma atuação convincente. Ah, não acha que o Tommy Lee devia ser indicado ao Oscar por este filme ao invés de "No vale das Sombras"?
Abraço!
Excelente crítica. Ainda não fiz a minha sobre o filme ainda (preciso de escrever sobre alguns milhões antes). Mas eu adorei, um filmão que realmente mereceu suas 8 indicações. Levar o Oscar? Talvez, preciso ver ainda Juno e Sangue Negro. Até agora não decidi qual foi melhor, este ou Atonement.
Adicionei o seu blog no Cine Vita, achei que deveria saber. Ciao!
Tanx people! WALLY: Eu ainda preciso ver quase todos os outros filmes concorrentes pra me decidir, mas acho que Onde os Fracos... tem a maior cara de Oscar.
WEINER: Eu simplesmente adoro Fargo, acho que é meu preferido, talvez ao lado de Gosto de Sangue. Eu realmente acho Onde os Fracos... muito bom, mas essa visão pessimista me incomoda um pouco. Agora, eu acho que fazer a critica de um filme é independete das suas visões particulares sobre as temáticas do filme, por isso, mesmo dizendo que eu gostei do filme eu não me sinto inseguro pra falar que não concordo muito com a visão dos irmãos Coen.
Concordo com essa sua visão do pessimismo. Por outro lado, acho Onde Fracos Não Têm Vez melhor que Desejo e Reparação. Os 3 outros indicados, ainda não vi.
Abraço!!!
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