Na sessão dupla de Che, onde a fila pra entrar dobrava o quarteirão, compareceram, além de alguns produtores, os atores Benício Del Toro e Rodrigo Santoro, que interpretam respectivamente Che Guevara e Raul Castro. Foi interessante ver também que meu vizinho de quarto aqui na escola está no filme, como um revolucionário que leva um tiro na bunda e não tem falas. Na sessão de Linha de Passe ninguém do filme estava, mas Daniela Thomas – que divide a direção com Walter Salles – apareceu por aqui na escola anteontem. Por sorte fui numa sessão de A Mulher Sem Cabeça apresentada pela diretora, Lucrécia Martel, e que me disseram hoje deve estar na escola nos próximos dias. O primeiro filme dessa diretora argentina, O Pântano, é incrível, mas infelizmente esse último deixa a desejar.
Além disso Mike Leigh foi o homenageado da vez no festival, com uma pequena retrospectiva de seus filmes, e ainda apresentando seu último trabalho, Happy-Go-Lucky, que está excelente (e acabei de descobrir que foi indicado ao Globo de Ouro). Mike Leigh esteve aqui na escola e fez uma palestra incrível, ficou mais de duas horas respondendo perguntas dos alunas e depois almoçou com os alunos de direção.
A presença brasileira também chamou muita atenção no festival, como tem sido costumeiro nos últimos anos. Havia muitos filmes nacionais e muitos deles excelentes, é uma pena que não possa dizer isso de todos. As sessões de Última Parada 174 estavam lotadas, não entendo muito bem porque, já que achei o filme uma porcaria total. Com A Festa da Menina Morta, do Matheus Nachtergaele, ocorreu exatamente o contrário, ao final não sobrava quase ninguém na sala e eu achei o filme muito bom. As sessões de Feliz Natal, de Selton Mello, foram moderadamente concorridas mas o público ao menos se manteve dentro da sala. Além disso foi interessante bater papo com o Selton Mello e Daniel de Oliveira, ator de A festa..., duas pessoas muito interessantes e solicitas.
Fora os nacionais alguns outros filmes me chamaram muito a atenção. O festival abriu com Leonera, um filme argentino muito interessante sobre uma mulher que é encarcerada enquanto está grávida, e que também conta com a participação de Rodrigo Santoro falando um espanhol com sotaque argentino bem sofrível. O documentário uruguaio Vengo de un avión que cayó en las montañas é mais uma tentativa de abordar a tragédia do vôo de esportistas uruguaios que caiu nos Andes, através de depoimentos dos sobreviventes, fotos do próprio acidente e reconstituições o diretor consegue demonstrar toda a dificuldade para sobreviver numa situação como essa. O filme russo Día de plenilunio (não conheço o título original) é uma exercício fantástico de narração. Não conta com personagens e história centrais, ao contrário, troca de ponto de vista toda vez que um personagem encontra outro, assim, acompanhamos um personagem por alguns minutos e depois outro. Com o tempo percebemos como quase tudo gira em torno de um mesmo evento do passado.
A embaixada brasileira ofereceu um coquetel no Hotel nacional também, onde compareceram os atores Selton Mello, Daniel de Oliveira e Fernanda de Freitas (Tropa de Elite). Não foi nada interessante, o melhor foi conhecer a secretária do embaixador que parece um personagem saído diretamente de um quadro do Zorra Total. Terminei a semana cruzando pela primeira vez com Grabiel Garcia Marquez num corredor aqui da escola, finalmente! O ruim é que parece que Gabo não está nada bem, está tão velhinho e anda com tanta dificuldade que acho que não lhe sobra muito tempo. Me disseram que é muito difícil conseguir falar com ele ultimamente, porque anda mais recolhido e cansado.