quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Festival e Gabo, parte 2

As películas mais aguardadas do festival eram Ensaio sobre a Cegueira, Linha de Passe, A Mulher sem Cabeça e Che parte 1 e 2. Todas as sessões para esses filmes foram concorridíssimas e lotadas. A sorte é que os alunos tem uma credencial e não precisam pegar fila para entrar nas sessões, sorte também que todos os cinemas cubanos são da épocas onde o cinema era a maior fonte de diversão, então são gigantes.

Na sessão dupla de Che, onde a fila pra entrar dobrava o quarteirão, compareceram, além de alguns produtores, os atores Benício Del Toro e Rodrigo Santoro, que interpretam respectivamente Che Guevara e Raul Castro. Foi interessante ver também que meu vizinho de quarto aqui na escola está no filme, como um revolucionário que leva um tiro na bunda e não tem falas. Na sessão de Linha de Passe ninguém do filme estava, mas Daniela Thomas – que divide a direção com Walter Salles – apareceu por aqui na escola anteontem. Por sorte fui numa sessão de A Mulher Sem Cabeça apresentada pela diretora, Lucrécia Martel, e que me disseram hoje deve estar na escola nos próximos dias. O primeiro filme dessa diretora argentina, O Pântano, é incrível, mas infelizmente esse último deixa a desejar.

Além disso Mike Leigh foi o homenageado da vez no festival, com uma pequena retrospectiva de seus filmes, e ainda apresentando seu último trabalho, Happy-Go-Lucky, que está excelente (e acabei de descobrir que foi indicado ao Globo de Ouro). Mike Leigh esteve aqui na escola e fez uma palestra incrível, ficou mais de duas horas respondendo perguntas dos alunas e depois almoçou com os alunos de direção.

A presença brasileira também chamou muita atenção no festival, como tem sido costumeiro nos últimos anos. Havia muitos filmes nacionais e muitos deles excelentes, é uma pena que não possa dizer isso de todos. As sessões de Última Parada 174 estavam lotadas, não entendo muito bem porque, já que achei o filme uma porcaria total. Com A Festa da Menina Morta, do Matheus Nachtergaele, ocorreu exatamente o contrário, ao final não sobrava quase ninguém na sala e eu achei o filme muito bom. As sessões de Feliz Natal, de Selton Mello, foram moderadamente concorridas mas o público ao menos se manteve dentro da sala. Além disso foi interessante bater papo com o Selton Mello e Daniel de Oliveira, ator de A festa..., duas pessoas muito interessantes e solicitas.

Fora os nacionais alguns outros filmes me chamaram muito a atenção. O festival abriu com Leonera, um filme argentino muito interessante sobre uma mulher que é encarcerada enquanto está grávida, e que também conta com a participação de Rodrigo Santoro falando um espanhol com sotaque argentino bem sofrível. O documentário uruguaio Vengo de un avión que cayó en las montañas é mais uma tentativa de abordar a tragédia do vôo de esportistas uruguaios que caiu nos Andes, através de depoimentos dos sobreviventes, fotos do próprio acidente e reconstituições o diretor consegue demonstrar toda a dificuldade para sobreviver numa situação como essa. O filme russo Día de plenilunio (não conheço o título original) é uma exercício fantástico de narração. Não conta com personagens e história centrais, ao contrário, troca de ponto de vista toda vez que um personagem encontra outro, assim, acompanhamos um personagem por alguns minutos e depois outro. Com o tempo percebemos como quase tudo gira em torno de um mesmo evento do passado.

A embaixada brasileira ofereceu um coquetel no Hotel nacional também, onde compareceram os atores Selton Mello, Daniel de Oliveira e Fernanda de Freitas (Tropa de Elite). Não foi nada interessante, o melhor foi conhecer a secretária do embaixador que parece um personagem saído diretamente de um quadro do Zorra Total. Terminei a semana cruzando pela primeira vez com Grabiel Garcia Marquez num corredor aqui da escola, finalmente! O ruim é que parece que Gabo não está nada bem, está tão velhinho e anda com tanta dificuldade que acho que não lhe sobra muito tempo. Me disseram que é muito difícil conseguir falar com ele ultimamente, porque anda mais recolhido e cansado.

Festival e outras coisas mais, parte 1

Vou dividir este post em dois pra não ficar muito grande. Tem muito tempo que eu não posto nada e fica difícil lembrar de tudo, então nem vou tentar. Três semanas atrás estávamos em um taller de produção e foi o demônio. Durou duas semanas e, no final delas, tínhamos que entregar uma pasta de produção de um curta metragem completa. O professor nos deu um roteiro e iniciamos as atividades nos reunindo em grupo e decidindo como seria a cara desse curta. Meu grupo decidiu por uma história ambientada na década de 50 cubana.

Depois disso nos dividíamos em duplas e começávamos o trabalho de verdade. Incluía um orçamento completo (inclusive com partes abertas, com cálculos de salários e encargos sociais para mais de 40 pessoas, impostos, etc), plano de rodagem, planta de câmeras, roteiro técnico, plano econômico, fotos de locações ou esboço de cenários, press kit e um pitch pra completar. Não parece tanto, mas me custou duas noites em claro trabalhando até as 5 da manhã e mais outras três noites que fui dormir as 3h. O mais curioso era andar pelos corredores da escola no meio da madrugada. Se passava na frente do quarto de algum colega eu sempre ouvia vozes lá dentro, discutindo sobre o trabalho. Na nossa sala de aula era ainda mais incrível. Eu costumava ir lá porque temos pontos de internet e alguns computadores disponíveis, mas poderiam facilmente ser 3 horas da manhã e as pessoas estavam trabalhando ativamente, ouvindo música, conversando, etc. Aparentemente era um dia normal se pela janela a escuridão da madrugada não pudesse ser vista. Era um clima interessante, mas desesperante. Especialmente porque nossos coordenadores tiveram a brilhante idéia de nos colocar uma matéria noturna – sim, porque a matéria de produção continuava normalmente durante a manhã e tarde, trabalhávamos nos horários 'livres' - tínhamos Recorrido del Heroe durante a noite com uma professora americana. O melhor de tudo era que essa matéria foi um desperdício de tempo total, pois a professora e seu irritante tradutor só tratavam de mostrar filmes completos e fazer discussões chulas no final. A aula terminava meia noite e aí começávamos a trabalhar. Que bom que acabou.

Felizmente na semana seguinte ao final do taller de produção começou o 30º Festival Internacional do Novo Cinema Latino Americano, ou, pros íntimos, Festival de Cinema de Havana. A organização do Novo Cinema Latino Americano é a fundação que criou essa escola, assim, o festival é sempre uma ocasião muito especial. A semana começou com a distribuição de módicos 30 CUCs pra cada um dos alunos. Esse dinheiro deveria ser usado para alimentação enquanto estávamos em Havana. Mas o esquema do festival é um pouco pesado, a escola coloca quatro horários de ônibus para levar os alunos para Havana, sendo que o mais tarde é as 14h. O problema é que os horários de retorno se reduzem a 12h30 e 2h da manhã. Ou seja, ficamos todos os dias 12h em Havana, cansativo pra caramba. Não dava pra reclamar muito no início, porque tudo é festa nos primeiros dias. A cada dia que pegávamos o jornalzinho com a programação do dia seguinte era uma satisfação, porque víamos nomes de filmes que queríamos ver a muito tempo, ou filmes que estrearam no circuito mundial – que exclui Cuba – enquanto estávamos aqui.

Além disso, a sede do evento é no prestigiado e famoso Hotel Nacional, no centro de Havana, e os alunos dos anos anteriores já haviam dito que era meio costumeiro passar as horas vagas nos sofás do Hotel vendo um monte de gente famosa passar.

Em relação aos filmes o festival é interessante porque te dá a chance de ver coisas que você provavelmente não vai mais ver em lugar nenhum, muitos filmes de todos os países da América latina. Dá pra conferir o que os compañeros estão fazendo por aí e deu pra ver também o rosto de muita gente conhecida aqui da escola em alguns filmes.

domingo, 9 de novembro de 2008

Reygadas e fotografias

Essa semana recebemos na escola Carlos Reygadas, um cineasta mexicano que tem certo reconhecimento internacional com seus filmes, estritamente filmes de arte. Confesso que ainda não vi nenhum dos filmes de Reygadas, mas o sujeito parece gente boníssima. É nesses momentos que você ama a escola, porque em que outra escola do mundo os alunos poderiam tomar cerveja com um artista conhecido, que pode passar muitos dos seus conhecimentos para eles? Em outra parte do mundo você almoça com um diretor de cinema de prestígio internacional? E que pega fila no refeitório como todo mundo!


O outro ponto alto da semana é que a parte prática do curso voltou, depois do hiato de algumas semanas de teoria. Se bem que eu não considero o taller de três semanas de roteiro como só teórico, afinal, tivemos que escrever muita coisa e para mim não resta dúvida de que isso é prática. Mas a parte bizarra ainda está por vir.

Pense numa mídia visual que sumiu, que está totalmente extinta mesmo. Completamente. Talvez reapareça vez por outra apenas como um tipo referência ao passado ou como uma forma didática, sem fins artísticos. Pensou? Pensou em fotonovela? Se pensou nisso acertou, agora tenta adivinhar quem está tendo um taller prático de fotonovela? Se pensou em Daniel Castro acertou também, adivinhão.


Quando eu vi escrito no quadro geral, que mostra todos os talleres que teremos até o fim do ano letivo, imaginei, no mínimo, que essa forma de... de 'arte', estivesse em uso em alguma parte da América Latina. Mas não, está extinta mesmo, assegurou meu professor uruguaio – que além de ser professor dessa pérola tem a irritante característica de falar baixo como um monge Zen budista. E depois de fazer minhas sinapses trabalharem em hora extra por um momento, cheguei a conclusão de que o objetivo do taller era, obviamente, exercitar a narração de uma história de maneira visual. E que sim, era um bom exercício pensar numa história de forma visual, decupar uma fotonovela, pensar em planos, etc. Além da aula de fotografia e revelação fotográfica que tivemos, que foi muito boa. Mas algum de vocês, caros leitores, já leu uma fotonovela? É horrível! Eu aconselho que se não leram não leiam nunca, preservem sua inocência e dignidade.


E o pior é que o professor faz questao que nosso exercício se enquadre dentro da 'linguagem' (leia-se clichê) de uma fotonovela. O pior é que em qualquer uma dessas pérolas as fotos em si são praticamente dispensáveis. A descrição emocional e psíquica dos personagens que cada um dos quadros leva é tão completa e transparente que torna as imagens supérfluas. Além do fato de que as imagens são tão genéricas que podem contemplar quase qualquer descrição. Eu entenderia o exercício se fosse apenas uma prática de uma narrativa contada por meio de imagens. Mas essa coisa de entender a linguagem das fotonovelas me parece muito dispensável e irritante. E as aulas são uma tortura psicológica já que o professor fala dos conceitos como se estivesse cantando um mantra, resistir ao sono é tarefa duríssima, sorte que foram poucas aulas teóricas e mais práticas.


Outra novidade foi que corríamos o risco de receber mais uma daquelas visitinhas tenebrosas de um furacão, mas que, felizmente, passou longe. O furacão Paloma se dirigiu diretamente para o centro da ilha e ficou bem longe de nosotros. Torço pelo pessoal de Camaguey agora, porque parece que vão pegar um categoria 4 por lá. Quando o Ike passou por aqui, uns três dias antes já ventava muito forte, se escutava os uivos altos por toda noite. Mas o Paloma tem previsão de chegada para domingo de manhã e até agora nada. Está tudo muito calmo por aqui, então acho que ele não vai fazer nem cócegas na escola, felizmente.


E outra notícia chocante: vi dois filmes essa semana! Parece horrível para um estudante de cinema, certo? E é mesmo, mas não sei o que aconteceu. E justo nessa semana, onde eu – pasmem! - não tive atividade nas noites. Tive todas as noites da semana livres e só consegui ver dois filmes. E com um deles sofri muito para chegar ao final. Os contemplados foram:


A Conversação (Francis Ford Coppola) – Filme que narra de maneira interessantíssima o trabalho de um detetive particular que grava uma conversa de um homem e uma mulher a pedido do marido da mesma. Temendo pela vida dos dois gravados, já que percebe que o homem que o contratou pode tentar matar o casal, ele se depara com um dilema ético. Excelente performance de Gene Hackman como o detetive e brilhante roteiro.


Inland Empire (David Lynch) – Num futuro próximo me lembrem de dar mais uma chance a esse filme. Acho que David Lynch merece, mas, dessa vez, tenho que confessar que não me agradou. E não foi o fato de que este último ser completamente ininteligível. Até meados dos primeiros noventa minutos eu estava totalmente concentrado na obra, até achei bastante perturbador e bizarro. Mas depois da primeira hora e meia foi praticamente impossível resistir ao sono. Tive que terminar o filme numa segunda sessão, coisa que raramente faço. Destaque para o trabalho fenomenal de Laura Dern, atriz que parece só funcionar bem com Lynch.

sábado, 1 de novembro de 2008

Farofas e Zumbis

Vocês devem ter notado a postagem dupla hoje, e a falta de post semana passada. Bom, tive alguns problemas com a internet aqui na escola, mais problemas de tempo, e, finalmente, problemas com um pendrive pródigo que já retornou à casa depois de estar perdido. Então aproveitei pra postar hoje o post que tinha escrito pra semana passada.

Essa semana não foi lá de muitos filmes. Não vi nenhum, por incrível que pareça. Quer dizer, nenhum convencional, porque o que eu vi de videoarte esses dias não está no gibi! Vi, inclusive, a coisa mais bizarra que já deve ter sido feita para o cinema. Mas felizmente me esqueci o nome, e, com sorte, devo esquecer as imagens nas próximas semanas. Ah, sim, vi também um documentário que um colega me emprestou, chamado Zeitgeist, feito por um desses grupos de extrema esquerda por aí. Estou sendo tão genérico assim de propósito porque esse filme não tem autoria, e, pra mim, não ter autor ia é também não assumir responsabilidades.

Mas devo dizer que o filme em si, apesar de tosquíssimo, é um pouco interessante. Golpeia a religião no princípio e depois, no resto, golpeia os EUA. Quem me conhece sabe que esse tipo de crítica inocente normalmente não me atrai, e que eu não tenho tanta propensão a esse tipo de esquerdismo (e talvez de nenhum outro tipo), mas o filme dá dados interessantes sobre o 11 de Setembro e sobre o sistema econômico americano. Coisas que eu nunca tinha ouvido falar antes. Pra quem quiser ele pode ser baixado de graça. É só procurar por Zeitgeist no Google.

Seguindo com as outras coisas interessantes da semana tenho que ressaltar a farofa! Sim, vocês que moram no Brasil não sabem a sorte que têm de poder encontrar essa iguaria em qualquer esquina. Quando eu estava aí não dava tanta importância assim pra farofa. Mas outro dia, quando um colega que trouxe pacotinhos de farofa pronta do Brasil me ofereceu, e eu comi junto com a comida normal do escola, quase caí pra trás! Daí tive que ligar pra minha família que se encarregou de mandar algumas coisinhas pra mim, das quais destaco grandemente a presença da farofa e de paçoquinhas. Ah! Me senti no Brasil comendo paçoquinhas.Sei que isso parece um tanto quanto patético, mas vocês não fazem idéia o tanto que se perde a refer ência quando se está distante do que você comia regularmente no Brasil. O gosto parece difer ente, maravilhoso! Bom, quando for para o Brasil em Dezembro vou de malas vazias e elas voltarão lotadas, e podem acreditar que uma boa parte da carga será de paçocas e farofa!

O outro ponto alto da semana foi a caminha Zumbi em San Antonio de Los Baños. Sim! Os alunos da EICTV estão se esforçando pra trazer a cultura ianque aqui para Cuba! Alguns alunos do terceiro ano organizaram uma festinha pra comemorar o Halloween em San Antonio, que é a cidade onde se localiza a escola (só que 9 Km distante). San Antonio é uma cidade de mais ou menos 20 mil habitantes e o cenário é o típico cubano: muitas casas velhas e aparência de desolação. Lembra um pouco os municípios pequenos do norte de Minas e alguns do Nordeste, mas tem suas peculiar idades. Bom, o caso é que esse cenário serviu perfeitamente para dar lugar a um bando de gente vestida como zumbis, gritando pelo meio da rua em plena noite. Parecia realmente um filme pós-apocalíptico, e os locais tiveram o maior prazer em se juntar a nós, especialmente os adolescentes e jovens, é claro. Depois de rodar em algumas ruas aos berros, inclusive abordando
carros, a noite terminou com a exibição de Madrugada dos Mortos em uma das praças da cidade. É esse tipo de coisa que faz a gente ter a sensação que voltou aos nove anos de idade aqui na escola, perfeito!

A Saga do Papel Higiênico

Fui à Havana domingo, para respirar um pouco os ares da civilização. Além disso quatro colegas estavam numa missão sagradíssima: encontrar papel higiênico. Aqui há algumas crises sazonais deste objeto tão útil, mas eu estava relativamente tranquilo pois tinha um estoque pessoal razoável. Só sei que rodamos Havana inteira, a velha e a nova, em busca dos tais papéis, e nada. No final, por desespero, os colegas se contentaram com guardanapos, só para descobrir, no dia posterior, que tinha chegado papel na loja da escola.

Mas o melhor de ir à Havana é comer, pra variar um pouquinho a comida da escola. Comi um hambúguer que nem de longe lembra os hamburgueres do Brasil, mas tá valendo. Também não tinha Coca-Cola nesse dia. É que agora, depois de algumas semanas do furacão Ike, os estoques de comida do país estão acabando, e há uma pequena crise por aí. Dizem que um ovo em Havana está custando os olhos da cara, mas, como sempre, não dá pra saber até onde vão os boatos e onde está a verdade. O que é fato é que o governo cubano apertou o certo para o contrabando e venda ilegal de alimentos, algo que normalmente recebe uma vista grossa por parte dele. Quem for pego vendendo alimentos ilegalmente – ou seja, por fora dos supermercados estatais ou 'bodegas' das cidades – pode ir em cana. Mas a escola não corre nenhum risco, creio eu. A maior parte da nossa comida é importada, e não
sofre nenhum efeito nessa crise, a não ser pelos vegetais, que aqui em Cuba são um problema de qualquer maneira. Isso só serve pra reforçar a expressão que se usa por aqui de que a EICTV não é Cuba. A ilha dentro da ilha.

Voltando ao consumo – ah, o consumo! - comprei, finalmente, caixas de som para o notebook, e agora posso incomodar meus vizinhos também. O som do notebook já não me satisfazia há muito tempo, quando estava tomando banho, por exemplo, não escutava músicas direito. Agora sim escuto, e meus vizinhos também! A melhora também foi grande para ver filmes e seriados. Outro item com 'check' foi a organização do meu quarto. Finalmente cheguei a uma configuração 'x' que me agradou, pelo menos momentaneamente. Não vou esquentar muito a cabeça agora porque pretendo mudar de quarto no final do ano letivo, em Julho, quando os alunos de terceiro ano forem embora. Então pintar paredes por enquanto nem pensar. Outra coisa boa é que o calor está indo embora aos poucos, estamos nos aproximando do inverno. Obviamente que não chega a fazer frio de verdade mas pelo menos não faz calor como no inferno. Com o festival de Havana se aproximando fico cada vez mais excitado. 'Corre à boca pequena' que o Gabriel Garcia Marquez deve aparecer por aqui alguns dias antes do festival e que deve ter uma conversa com a gente. Mas ninguém confirma isso, afinal, ele está bem velhinho e doente. Meu pesar é que todo ano ele dava uma oficina para os roteiristas, mas essa oficina não está mais garantida agora, eu acho. Pena. Segunda devem pintar por aqui o diretor de 'As duas faces de um
crime' e do recente 'Fracture' e um executivo da Dreamworks. Além disso vamos ter uma conferência sobre Animes com um doutor de uma universidade japonesa, especialista no assunto. A semana promete, especialmente porque começo com duas oficinas novas.

Essa foi também a última semana de História do Cinema, e consequentemente o fim das sessões de filmes obrigatórias à noite, mas não pensem vocês que as aulinhas da noite terminaram não! No sir! Na próxima semana tenho taller de vídeo arte. Mas voltando às sessões de História do Cinema os filmes da semana foram:

My Father is 100 years old – Curta absolutamente maravilhoso de Guy Maddin sobre Roberto Rossellini, atuado por sua filha, Isabela Rossellini. Entre outras coisas Isabela interpreta Hitchcock, David O Seznick, Fellini e Charles Chaplin. Imperdível, recomendo a visualização no Youtube.


The sadest song in the world – Longa de Guy Maddin sobre uma ricaça dona de uma cervejaria que resolve lançar um concurso para escolher a música mais triste do mundo, para patrocinar sua cerveja. Entre outras bizarrices, a personagem de Isabela Rossellini, que não tem pernas, usa em determinado momento do filme próteses de vidro cheias de cerveja.

Através das Oliveiras – Filme de Abbas Kiarostami, o papa do cinema iraniano, que fecha a trilogia iniciada por Onde fica a Casa de meu Amigo? Narra a história de uma filmagem, a filmagem do segundo filme da trilogia, E a Vida Continua. Porém não é um making of, é uma filmagem fictícia de um filme real (!), o plano final da película é absolutamente maravilhoso. Deveria estar em qualquer lista dos 10 melhores planos da história do cinema.

As 5 Obstruções de Lars Von Trier – Devo começar dizendo que esse talvez não seja o título desse filme em português, eu traduzi do espanhol e achei impossível memorizar o título original em dinamarquês. O filme trata de uma proposta que o sempre alucinado e criativo Lars Von Trier faz a um diretor da velha guarda da Dinamarca. Refazer um curta chamado O Homem Perfeito, filmado pela própria 'cobaia' anos antes, de cinco formas diferentes, cada uma delas com algum tipo de restrição estabelecido por Trier. Se parece um reality show à primeira vista, saiba que não é. Trier cria uma intricada teoria sobre a personalidade de sua 'cobaia' e trata de criar situações 'terapêuticas' com elas. É também um verdadeiro ensaio sobre o cinema.

As Harmonias de Weickmeister – Bela Tarr é um diretor húngaro muito prestigiado em todo mundo. Provavelmente tem os filmes mais difíceis de se assistir na história do cinema. Um filme de Bela Tarr é diferente de qualquer outra coisa que você já tenha visto. Aqui na escola assistir um filme dele é como uma das provas de Hércules para o estudante, é como uma das etapas da jornada do herói. Não é a toa que poucas pessoas vejam seus filmes, muito embora muitas pessoas falem deles, um de seus longas tem 7 horas e meia de duração. Confesso que esse não me agradou muito logo depois da projeção. Mas no dia seguinte, quando não consegui tirar vários de seus planos-seqüência da cabeça, soube que tinha assistido a uma obra-prima e que teria que voltar a ela mais vezes.

71 Fragmentos de uma cronologia de Azar – Outro título traduzido do espanhol com o original em alemão. Nesse Michel Haneke novamente dá contornos políticos e sociais ao tema da violência. Mas usa para isso apenas fragmentos de histórias desconexas de pessoas que participaram, ou não, de um desses eventos de tiroteios em lugares públicos. A teoria é que desfragmentando se conhece mais um evento. Não sei como, pra mim o resultado foi que desfragmentando se faz um filme chato. Muito chato!

sábado, 18 de outubro de 2008

Larga do meu pé Tarkovsky! Ou, como assisti dois filmes do Tarkovsky na mesma semana



Bom, obrigado as pessoas que manifestaram interesse por esse blog quepassa por uma fase muito sofrível. Posso assegura que isso é maisresponsabilidade da internet do tio Fidel do que desse que vos fala. Queria dizer também que tenho muita dificuldade de comentar nos blogs de todo mundo, é lento mesmo, vocês não tem idéia. Além de outras dificuldades, por exemplo, para postar isso eu tenho que escrever no meu notebook, mandar o arquivo pelo meu email da intranet da escola para o meu email do Gmail, ir para os computadores que dão acesso à internet, entrar no Gmail, copiar e colar no Blogger. Ufa! Tudo isso porque os computadores que dão acesso à internet no Laboratório de informática da escola não tem uma entrada USB, pelo menos não todos. E como os alunos de primeiro ano não tem acesso gratuito à internet nas salas de aula, tenho que me sujeitar a isso. E se eu for escrever direto no Blogger vocês já viram a maravilha que fica né? Sem acentuação nenhuma.

Bom, minha semana começou tranqüila e promissora. Estamos na quarta semana de História do Cinema, matéria onde a teoria é dada pelas manhãs de segunda a sexta e os filmes são projetados à noite. O professor é um chato, mas sabe muito e tem muita disponibilidade para emprestar os filmes da sua enorme coleção para que os alunos copiem, e tem cada raridade que vocês nem imaginam! Digo que a semana começou bem porque vi os cartazinhosque esse professor espalha pela escola, anunciando as sessões noturnas de História do cinema, o primeiro filme seria um do Herzog que eu nunca tinha ouvido falar. Bem, não foi uma maravilha mas foi interessante. A semana, em termos de filmes, passou por uma civilização revoltosa de anões, a um bando de vampiros filósofos e também por dois japoneses que fazem sexo em 95% das cenas de um filme. Em outras palavras:

También los enanos comenzaron pequeños (W. Herzog), um bando de anões, num mundo que, se supõe, seja apenas habitado por outros igualmente pequeninos, se revolta contra o diretor de uma escola que mantém um dos seus de refém. O problema é que é aquele tipo de filme em que o diretor visa estressar um pouco sua platéia, e para isso Herzog usa uma risada cômica e nervosa de um dos personagens a todo momento. Mas faz um paralelismo muito interessante para a humanidade usando seus pequeninos.

A Infância de Ivan (A. Tarkovsky), finalmente um filme de Tarkovsky que eu consegui assistir concentrado e interessado. Narra a história de Ivan, um menino de 12 anos que perdeu os pais na 2º Guerra Mundial, na URSS. É cuidado por um bando de militares que o querem manter a salvo a todo custo. As melhores seqüências são as dos sonhos do menino, fantástico!

La adicción (Abel Ferrara), uma estudante de doutorado em filosofia é mordida por uma vampira no centro de Nova Iorque. Após esse ¨inconveniente¨ ela se converte numa sugadora de sangue inveterada. Abel Ferrara usa o vampirismo como metáfora para várias coisas, mas especialmente para uma discussão interessante sobre o bem e o mal, usando um estonteante preto e branco como suporte.

Gummo (Harmony Korine), filme desconcertante e sem narrativa central, sobre os jovens habitantes de uma cidadezinha americana. Acompanhamos a vida de alguns deles por várias cenas, mas de outros vemos apenas alguns depoimentos. Uma mescla interessante de ficção e linguagem de documentário, Korine também usa gravações originais e caseiras dos locais. É também o diretor do mais conhecido Kids.

O Espelho (A. Tarkovsky), chatíssimo filme que é considerado a obra-prima deTarkovsky, porém, dá pra perceber que é um filme especial. Mas, sinto muito, eu não sintonizo bem com Tarkovsky, não gosto da visão de mundo dele e quando assisti o dia inteiro de aulas me sinto cansado para ver 'a natureza falar' como disse o professor. Algumas cenas são muito interessantes, mas é isso: cenas interessantes, como uma exposição de quadros filmada. Talvez daqui alguns anos eu saiba apreciar melhor, mas por enquanto não.
O Império dos Sentidos, um senhor casa-se com uma de suas empregada e os dois fazem sexo o tempo inteiro. Basicamente é isso. E falo sério, há pouquíssimas cenas onde os dois não fazem sexo um com o outro ou com alguém. Também não há cenas expositivas ou explicativas, por exemplo, em uma cena ele diz que nunca mais voltará a tal lugar e duas cenas (de sexo)depois ele está em tal lugar, sem que haja necessidade de dizer como e porque ele foi até lá. Também não há cenas de câmera subjetiva, como se o diretor quisesse que a relação dos dois se estabelecesse sempre aos olhos do espectador e nunca sob o ponto de vista de um dos dois amantes. É um filme muito interessante.

Além disso vi outros filmes por fora da disciplina de História do Cinema. Essa semana começamos a oficina de Roteiro que deve durar três semanas e o professor pediu que víssemos quinze filmes. Eu já tinha visto vários da lista e não vou ver todos porque, francamente, tempo é o que eu menos tenho ultimamente. Mas como tenho que fazer um trabalho na semana que vem e o professor designou cada um dos roteiristas como 'cabeças' de grupos, assisti ontem 'Se meu apartamento falasse'. A vantagem é que eu queria ver esse filme há muito tempo (já até copiei) e os filmes do Billy Wilder nunca decepcionam. Resultado: adorei! Agora só falta achar os finais de ato, clímax, detonantes, etc, etc, etc. No geral este está sendo o melhor taller do curso até agora.

A novidade da semana é que consegui comprar minha passagem para passar o final de ano no Brasil. A outra possível novidade é que minha família talvez vá à falência, já que cada dólar está custado, não sei, 700 reais? Essa coisa da crise financeira é algo interessante. Ficamos tão isolados aqui, sem um acesso decente a internet, jornais ou televisão, que temos a impressão, as vezes, que o mundo lá fora está acabando. Tem uma televisão noRapidito – nossa lanchonete 24h aqui na escola – que fica praticamente naCNN em espanhol o tempo todo. Só que toda vez que eu chego lá, além de muito barulho pra escutar direito, eu encontro sempre notícias sobre bombas na Finlândia, mortos na Bolívia, ataques suicidas não sei onde e muitas, muitas notícias sobre a crise financeira. Tenho medo de pegar o avião em Dezembro e chegar no Brasil e encontrar um cenário semelhante ao que o Will Smith encontrou.

Bom, fico por aqui. Perdão pelos títulos dos filmes em espanhol, os que eu lembrava em português eu coloquei. Mas não tenho, como já disse várias vezes, a disponibilidade pra ficar consultando os nomes de diretores e filmes na internet.

sábado, 11 de outubro de 2008

Sim, ele vive!

Acreditem! Creiam, fiéis remanecentes leitores! Sim, este blog está vivo! O que nao está tao vivo é a internet cubana, e os teclados sem acentuacao tambem! Mas eu estou aqui, vivendo essa experiencia maravilhosa e por vezes pertubadora que é estudar na EICTV.
Realmente era como eu esperava: aqui se respira cinema 24 horas por dia. Temos duas salas de projecao e televisoes, dvds e videos espalhados pela escola inteira. A sala de projecao maior, chamada Glauber Rocha, funciona quase o dia todo. Todas as noite, TODAS, tem pelo menos uma projecao de filme. Nos finais de semana sao mais. Temos uma videoteca com 10 mil títulos, prontinhos para serem assistidos.
Confesso que devia ter escrito antes, mas, como disse acima, a internet aqui é enervante. Foram muitas experiencias já, inclusive envolvendo um furacao muito mixuruca. Entao é coisa demais pra relembrar num único post.
Mas continuo aqui, e pretendo postar com mais assiduidade agora. Infelizmente nao vou poder continuar comentando os filmes mais recentes que estreaim no cinema, porque apesar dos cinema em Havana exibirem filmes novos, mesmo assim eles chegam aqui com bastante atraso em relacao ao Brasil. E tambem nao tenho tanta disponibilidade para ir em Havana, a escola fica pertinho e tem ¨guagua¨ todos os dias saindo da escola, mas tenho aula o dia inteiro e mais a noite.
Mas posso comentar das maravilhas filmicas que estou descobrindo por aqui, filmes que nunca tinha ouvido falar antes e que sao interessantissimos. Só espero que alguém ainda leia esse blog!

domingo, 10 de agosto de 2008

Onde está o Dr. House quando precisamos dele?

Fiquei assustado ao descobrir hoje que Bernie Mac morreu ontem. Ele era ainda muito jovem e embora não fosse um ator pelo qual eu tivesse alguma admiração especial, fico chateado que alguém tão novo morra, especialmente num ano que tem sido muito difícil para o cinema. Só consigo me lembrar da participação dele na série dos homens do Ocean e seus segredos. Sei que ele fez outros filmes mas nenhum me vem a memória com facilidade ...opa, lembrei de mais um, As Panteras Detonando... talvez eu devesse ter deixado esse esquecido. De qualquer forma Bernie Mac era sem dúvida nenhuma um cômico muito eficiente, e tinha certa presença em cena.




O estranho é que quando um astro de Hollywood morre assim você automática e tristemente pensa "acidente de carro ou overdose"? Nenhum dos dois. Bernie Mac morreu - pasmem - da evolução de Sacoidose pulmonar, que se transformou em uma pneumonia. Pra quem está acostumado com o seriado do Dr. Casa sabe que essa doença passa por seu quadro branco praticamente em todos os episódios. E aí eu me pergunto: onde está Hugh Laurie quando precisamos dele?

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Filmes que espero ansiosamente III: What Just Happened?




Filmes centrados no olho de furacão que é a própria Hollywood sempre me atraem, De Niro também sempre me atrai, mas, convenhamos, tem decepcionado um pouco. Essa é talvez a chance dele fazer as pazes com a comédia e quem sabe até com a boa atuação. Sair um pouco da zona de conforto. Uma coisa é certa, um dos meios mais rápidos para um ator deixar a zona de conforto é interpretar a si mesmo de uma maneira nem sempre generosa. Se De Niro não se apresenta dessa forma nesse filme é garantido que pelo menos alguns outros o façam, atentem, por exemplo, nas cenas de Bruce Willis atuando como ele mesmo. Tem tudo para ser um filmaço.

sábado, 2 de agosto de 2008

Você sabe que seu blog está abandonado quando...

1. O ítem da sidebar que diz "Último Filme Visto" traz o cartaz de 'A Malvada' com a legenda 'O Suspeito' e a intrigante data de 080/07

2. O ítem "Now Reading" traz um livro que você já terminou de ler há mais de 2 meses

3. Seu último post vai completar um mês daqui alguns dias, e ele só tem 15 comentários por causa desse tempo todo

Bom, mas o blog ainda não foi abandonado por completo. A questão é que faltam exatamente 28 dias para a viagem e a carga de ansiedade e estresse está altíssima. Por isso não ando com muita vontade de escrever, e nem tenho assistido muitos filmes ultimamente. Estou num esquema hardcore de aulas de espanhol e ainda tenho que resolver problemas de visto, passaporte, passagens aéreas, etc. Além disso todo mundo da minha família resolveu casar nos finais de semana de Agosto, lucky me. Por isso, tempo de sobra é algo que não tenho.

De qualquer maneira aí vão os filmes conferidos em Julho. Ah, quanto ao erro do Último Filme visto, eu não sei porque, mas não atualizou a imagem da última vez que eu tentei, então, enchi o saco e deixei como está.



5 Luinhas

Medo da Verdade (2007) - B. Affleck
Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008) - C. Nolan

4 Luinhas

A Família Savage (2007) - T. Jenkins
O Sobrevivente (2006) - W. Herzog
Senhores do Crime (2007) - D. Cronenberg
Banana is my Business (1995) - H. Soldberg
O Virgem de 40 Anos (2005) - J. Apatow

3 Luinhas

Elsa e Fred (2005) - M. Carnevale
Sem Reservas (2007) - S. Hicks
O Suspeito (2007) - G. Hood
Kung Fu Panda (2008) - M. Osbourne, J. Stevenson

2 Luinhas

Temos Vagas (2007) - N. Antal
Hancock (2008) - P. Berg
Hitman (2007) - X. Gens

As imagens das luinhas ficaram no pc do meu antigo trabalho...



Resultado pavoroso: 14 peliculas no total, sendo que 3 no cine, 9 no dvd e 2 na TV.

A propósito, para o pessoal que costuma vir aqui: perdoem minha negligência com o blog de vocês, não está sendo muito fácil arrumar tempo, como eu disse ali em cima.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Carta aberta a M. Night Shyamalan

Belo Horizonte, 08 de Julho de 2008

Caro sr. Shyamalan,

Permita-me perguntar: o que está acontecendo? Não, sério, o que está acontecendo? Você fez algum tipo de aposta com alguém? Deu algo muito errado nas gravações – uma piriri crônica por exemplo? – para seu último filme ser essa porcaria? Eu acreditava em você sabia? Todo mundo anda dizendo que sua carreira está numa queda vertiginosa, uma queda que já começou no segundo filme. Eu não acho. Sempre achei Corpo Fechado seu melhor filme. É tocante, é sensível, é maravilhoso! É incrível como você consegue fazer referência aos quadrinhos nele, usando poltronas para restringir o rostinho de uma criança, por exemplo, para sugerir o ‘enquadramento’ dos quadrinhos.

É sua melhor direção de atores também, em minha opinião. Portanto, para mim, Corpo Fechado não está um degrau abaixo de O Sexto Sentido, e sim um degrau acima. Mas depois dele tenho que reconhecer que os críticos tem certa razão. Não dá para segurar. Tá certo que Sinais também tem um elenco muito bacana e os planos e decupagem são bonitinhos, mas sua mania de finais surpresas conseguem acabar com tudo, criando uma conclusão que é exterior aos eventos dramáticos principais da narrativa. A Vila eu já gosto um pouco mais, é bonitinho e, novamente, o elenco é bastante eficiente – notou como eu elogio o elenco sempre até aqui? Isso vai mudar – mas mesmo assim não tem o brilho dos filmes anteriores. Em A Dama da Água é que a coisa começou a degringolar. Acho que você ficou arrogante Shy (dá pra te chamar assim? É que Night é muito estranho).

Aquele negócio de matar o crítico é até engraçadinho, e pode distrair o público. “Não, ele não quis revelar todo seu ódio dos críticos, foi só uma galhofa, uma brincadeirinha, nada demais”. Fosse esse o único indício do seu grande ego, passaria batido. Mas, quando você escolhe representar – mal e porcamente - um dos papéis principais, um cara que, literalmente, tem o destino de salvar o mundo, aí não tem como segurar a platéia enfurecida, Shy. E olha que eu até gostei de A Dama da Água, eu gosto desse clima de fantasia urbano, sério mesmo, eu gostei. Até aqui não foi tão difícil, se seus filmes já não tem o mesmo brilho de O Sexto Sentido e Corpo Fechado, eles, pelo menos, estavam acima da maioria dos filmes blockbusters americanos.

Mas Fim dos Tempos foi difícil de engolir cara. Só li uma crítica positiva, o cara dizia que tinha sido o melhor filme que ele tinha visto esse ano, dá pra acreditar!? Se ele não fosse brasileiro eu podia apostar que era sua mãe. Mas ele também é do tipo que odeia todos os filmes que os críticos e público adoram e ama todos os que eles odeiam. Sabe aquele tipo “o filme representa um ataque niilista contra a transgressão política do status de sujeito pós-moderno de sexualidade beligerante”? Pois é, desse tipo. O tipo que entra com projeto de dissertação de mestrado procurando o status de auteur de Michael Bay.

Mas falando sério, nós, os seres humanos normais, detestamos seu último filme. Ok, eu vi gente dizer que ele não é tão ruim e que tem aspectos interessantes. Eu até considero isso pertinente, afinal, mesmo os filmes de Ed Wood são interessantes em algum nível, nem que seja pela bizarrice. E por isso eu volto a questão: o que aconteceu? Você deixou de se importar, foi isso? Cansou dessa babaquice de dirigir atores e deixou-os soltos como colegiais encenando uma peça de escola? Disse “Não quero mais essa merda de escrever diálogos bons!” e resolveu criar pérolas expositivas como “Eu também não gosto de expressar meus sentimentos”? A melhor, no entanto, foi “Não pegue na mão da minha filha a não ser que você esteja falando sério” – Nossa, eu estou dando risadas só de lembrar.

E que tal o susto dolby 5.1? Não conhece? Mas você usa nesse filme! É simples, com ele é fácil assustar a platéia, é só cortar subitamente usando ao mesmo tempo um estalo gigantesco na sala de proteção, desse jeito a platéia fica assustada até quando está assistindo Cantando na Chuva, in-fa-lí-vel! É isso que você usa na seqüência da cabana, aliás, o que foi aquilo? Você percebeu subitamente na sala de montagem que só tinha material pra um média e resolveu filmar mais umas cenas? Porque aquilo é outra história meu caro, muito diferente da que você tinha se proposto contar. A propósito, essa seqüência me lembra muito Louca Obsessão, um filmaço, assista um dia, aposto que você vai aprender alguma coisa.

Uma das mancadas mais fabulosas do roteiro também é o fato que não damos a menor pelota para os personagens principais, de tão chatos que são. Eu queria que Zooey Deschanel morresse logo. Até a criança da vez você conseguiu estragar, porque aquela menininha foi difícil de aturar também. E as criancinhas dos seus outros filmes são tão bonitinhas e legais.

Eu admito que essa tentativa de tentar melhorar a recepção do filme com estratégias de marketing pode funcionar. Mas pegou super mal essa coisa de você ficar falando que seu desejo era fazer um filme B. Acho que você deveria ter seguido a linha de fazer referência e não copiar literalmente filmes B, como, por exemplo, o A Prova de Morte, do Tarantino. Um filme excelente que é baseado em filmes B. Percebeu a diferença? Não é necessário fazer um filme ruim para reverenciar filmes ruins e antigos.

Será que filmes sem plot twist são sua fraqueza? Será que os finais surpresa estão para você assim como as madeixas estão para Sansão? Devo lhe chamar de o Sansão dos plot twists? Acho que não, porque alguns filmes seus mesmo com finais surpresa não são bons.

Talvez seu desejo era de fazer um filme ruim mesmo, sabe-se lá porquê. Bom, se era esse o objetivo, missão cumprida!

Cordialmente,

Daniell Rodrigues de Castro

Filmes de Junho


Eu até pensei em deixar essa lista acumular para o mês que vem, afinal, postar depois de 8 dias é meio atrasado. Mas estou num mês hiper complicado, esse negócio de mudar para Cuba dá trabalho pra caramba! No mês mais turbulento do ano até agora é mais do que natural que minha média de filmes tenha caído um pouco. Além disso – também por causa da mudança – tive que cancelar minha conta na Netmovies, aliás, não se já falei da Netmovies aqui no blog mas, olha, pra quem não conhece eu aconselho. Minha vida mudou depois que me associei a essa locadora virtual com acervo gigantesco. Além de vários clássicos disponíveis eles ainda entregam e buscam o filme na sua casa sem custo nenhum, você só paga uma taxa mensal de acordo com seu plano. É o paraíso para um cinéfilo.

Sem mais delongas, vamos lá:






M.A.S.H. – R. Altman, 1972

A Criança – L. Dardenne, 2005

Patton – Rebelde ou herói? – F. Schaffner, 1970

Querelle – R. Fassbinder, 1982

Na Natureza Selvagem – S. Penn, 2007

Hannah e suas Irmãs – W. Allen, 1986

Deus e o Diabo na Terra do Sol – G. Rocha, 1964

A Malvada – J. Mankiewicz, 1950

Wall-e – A. Stanton, 2008

Dez – A. Kiarostami, 2002





A Supremacia Bourne – P. Greengrass, 2004

Não Estou Lá – T. Haynes, 2007





As Crônicas de Nárnia: O Príncipe Caspian – A.Adamson, 2008

O Caçador de Pipas – M. Foster, 2007

Hitch – Conselheiro Amoroso – A. Tennant, 2005

Vidas em Jogo – D. Fincher, 1997

O Incrível Hulk – L. Leterrier, 2008

Agente 86 – P. Segal, 2008





Uma Amizade sem Fronteiras – F. Dupeyron, 2003






Fim dos Tempos – M. N. Shyamalan, 2008

30 Dias de Noite - D. Slade, 2008


Total: 21 Cinema: 5 DVD: 13 TV: 3

terça-feira, 1 de julho de 2008

Dez


É sempre muito bom assistir algo em que se pensa logo no começo: “Que diabos é isso que eu estou assistindo?”. Essa experiência não é muito comum no cinema, um lugar povoado de oceanos de obviedades. Dez, do iraniano Abbas Kiarostami, me trouxe essa sensação. Mesmo que no início eu não tenha me conectado totalmente com o filme e tenha até sentido um pouco de sono.


A grande questão é que ele deixa um efeito residual, um ‘gostinho’ na boca que faz você voltar os pensamentos pra ele mesmo depois de ter assistido dias atrás. O filme acompanha Mania Akbari, uma mulher de meia-idade iraniana que recebe dez pessoas em seu carro, enquanto perambula pelas ruas de Teerã. E é isso. Duas câmeras DV captam o rosto de Akbari e de quem quer que esteja ocupando o banco do carona. As pessoas que passam pelo carro vão desde seu filho de sete anos, uma senhora muito religiosa, uma prostituta e uma amiga abandonada pelo marido.


O filme obviamente discute o papel da mulher na sociedade islâmica. Mas vai mais além. Kiarostami disse que o concebeu como um filme sem diretor (!). Ele dava orientações por um ponto no ouvido dos atores, e realizou ensaios e orientações com seu elenco, e foi só.


Além disso, os atores representavam papéis baseados em suas próprias vidas e não havia roteiro. Uma outra grande questão que emerge dessas informações é sobre a cada vez mais tênue distinção entre documentário e ficção. Quando o menino Amin está falando com sua mãe fica bastante claro que aquele texto não é puramente ficcional, sua mente infantil e machista não maquinou tudo aquilo, o conflito é verdadeiro.


E como fica a grande e pomposa teoria do auteur num filme que foi concebido com não tendo direção? Ela obviamente esta lá, mas mira o invisível, mira desaparecer. Como enquadrar Kiarostami como um auteur sendo que sua obra cada vez mais é totalmente heterogênea? Talvez não seja ele o culpado, talvez a teoria do auteur é que deveria mudar. Quem sabe desaparecer.






segunda-feira, 23 de junho de 2008

Filmes que Espero Ansiosamente II: The Curious Case of Benjamin Button


David Fincher talvez não receba o nível de atenção que ele merece, o cara foi simplesmente ignorado pelo Oscar esse ano, com seu brilhante Zodíaco. Só sei que gosto muito, ou ao menos simpatizo bastante, com cada um de seus filmes. E este último vem me deixando muito curioso, até porque, graças ao Omelete, deu pra ver um trailer novo.

A história é baseada num conto de F. S. Fitzgerald, e narra as aventuras de um homem (Brad Pitt) que nasce velho e vai rejuvenescendo a medida que os anos passam. Precisa dizer mais alguma coisa?


quarta-feira, 18 de junho de 2008

Conheça a EICTV

A Escuela Internacional de Cine y TV San Antonio de los Banõs (EICTV) é uma instituição não governamental situada em Cuba. Foi criada pelo Comitê de Cineastas da América Latina em 1985. Seu objetivo era formar e capacitar novos profissionais para o mercado cinematográfico latino-americano. Sob a égide do colosso da literatura, Gabriel García Márquez, que preside a escola desde sua fundação, a EICTV já formou mais de 582 profissionais em seu curso regular. Foram 52 países representados e 1200 obras audiovisuais realizadas.


Anualmente a escola é visitada por grandes personalidades do cinema, tanto astros como intelectuais da sétima arte. No vídeo institucional da escola, por exemplo, você pode ver, entre outros, Spilberg, Walter Salles e Coppola. Inclusive uma das histórias mais famosas do lugar parece ser o dia em que Coppola fez macarrão para uma das turmas em formação no curso regular. Isso mesmo, Coppola - THE MAN! - fez espaguete para um bando de alunos. Breves cenas do evento podem ser vistas no vídeo institucional que eu coloquei ali embaixo.


Mas o mais interessante eu ainda não disse. O mais interessante - e eu estou eufórico – é que EU FUI APROVADO!!!!! Recebi a notícia que fui aprovado no vestibular deste ano e devo ir para Cuba em Setembro! O curso regular tem duração de três anos, período no qual você tem aulas diárias em tempo integral e acomodação na própria escola. Minha especialização é roteiro.


A escola abre vagas todos os anos buscando alunos em vários países. Das 42 vagas, 30 são para alunos das Américas, as outras são divididas entre alunos da Europa, Ásia e África. A instituição oferece o curso regular com especialização em Direção, Roteiro, Fotografia, Som, Produção e Som. Aconselho a quem tem interesse profissional em cinema a tentar o processo seletivo, a escola tem bastante prestígio e põem muita ênfase no trabalho prático. Estudantes do terceiro ano rodam um filme no país do diretor. As provas são realizadas anualmente em BH, Recife e Floripa. Além do curso regular a EICTV também oferece algumas oficinas em várias datas e formatos.




quarta-feira, 11 de junho de 2008

Filmes que Espero Ansiosamente I: Religulous

Confesso que os documentários do tipo Michael Moore não me atraem muito, eu preferia o programa de TV, que me parecia mais apropriado para o formato. A questão é que quando o documentarista escancara o humor e torna clara sua proposta de ridicularizar certos aspectos do objeto documentado, a coisa fica bem mais interessante para mim. Ocultar essa proposta num suposto documentário 'investigativo' não é bacana.

Felizmente o caminho escolhido por Larry Charles parece ter sido o primeiro. Nesse novo filme, do mesmo diretor de Borat, o 'objeto' em questão é o fanatismo religioso. E - nova confissão - dessa vez eu tenho que admitir que esse assunto muito me interessa. Não faço segredo pra ninguém que as religiões, e especialmente o fanatismo religioso, não me agradam em nada. Por isso, esse é um dos filmes que mais espero para esse ano, muito embora as chances de ir para o cinema não sejam das melhores. Confira o trailer:


terça-feira, 10 de junho de 2008

As Crônicas de Nárnia: O Príncipe Caspian

Em comparação com o filme que deu origem a franquia esse novo filme é um refresco bem-vindo. O primeiro me irritou extremamente, tanto é, que nunca mais voltei a ele desde que o vi no cinema quando foi lançado.

Desta vez os irmãos Pevensie, retornam à Nárnia após um prosaico ‘chamado’ do príncipe Caspian, o atual e perseguido herdeiro do reino dos Telmarines. O príncipe está em apuros, pois seu tio deseja elimina-lo agora que possui ele próprio um herdeiro. Os quatros reis da antiguidade retornam então a Nárnia após terem abandonado o lugar há mil anos (o equivalente a um ano ‘terrestre’).

É claro que alguns itens irritantes do longa original se mantém nesse segundo. Os atores que ocupam os papéis juvenis continuam com tão pouco carisma quanto antes, uma falha grande do diretor Andrew Adamson ao dirigir seu elenco (fico me perguntando se esse sobrenome do diretor é alguma forma de gracinha com a história do filme, já que Adamson, é ‘Filho de Adão’, um termo recorrente na mitologia de Nárnia, ou se é só uma coincidência). O único destaque que consigo enxergar no elenco é o de Peter Dinklage, responsável pelo anãozinho Trumpkin, um reclamão, porém leal narniano.

Mas foram as seqüências de ação que cresceram nesse filme, as lutas de espada e batalhas realmente alcançaram um nível próximo da maturidade. É claro que a misteriosa e famosa falta de sangue em Nárnia continua lá. Os efeitos digitais continuam excelentes, com exceção de algumas poucas cenas de multidão onde o cuidado com a computação gráfica deixou a desejar.

A direção de arte de O Príncipe Caspian é outro fator que salta aos olhos. As armaduras mostram texturas e desenhos delicados, denotando o cuidado com a cenografia do filme. A concepção dos Telmarines trajando roupas como colonizadores espanhóis é um fator de grande importância para concebermos o perigo e a ameaça que sondam os remanescentes mágicos de Nárnia, acuados como os índios da América. O refúgio de pedras dos narnianos lembra – ainda que vagamente - as construções incas, e seu interior é decorado com pinturas rupestres.

Mas o roteiro – de A. Adamson, C. Markus e S. Mcfeely - apresenta uma série de buracos que, acredito, devem-se mais ao livro. Ainda não conferi a obra de C.S. Lewis, e não pretendo, mas penso que a afobação em incluir uma metáfora religiosa perfeitamente acabada na história faz com que algumas brechas apareçam inevitavelmente. Sendo assim, a inexplicável ausência de Aslan durante a maior parte da projeção não chega a alcançar uma resposta, fica apenas com a leve e frágil noção de que é uma questão de fé. Pode até funcionar na religião, mas cinema é outra coisa.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

A Ética dos Ladrões Cinematográficos


Me peguei pensando sobre ‘Um plano Brilhante’ – um filme não tão brilhante quanto o próprio título – mas que me fez pensar sobre a ética dos ladrões de banco cinematográficos. Essa ‘profissão’ tende sempre a ter um glamour muito especial no cinema. É um dos poucos casos em que torcemos desde o princípio por um contraventor, um criminoso que é muito facilmente simpático ao público. Diferente, por exemplo, de tornar simpático, ou ao menos aceitável, para o espectador personagens principais que degustam outros seres humanos, como é o caso de Hanibal Lecter. A tarefa de criar empatia entre o público e um criminoso é sempre muito complexa para um roteirista, mas no caso dos ladrões de banco parece automático, o público logo se identifica com eles.

‘Um Plano Brilhante’ não é o único caso. Mais recentemente temos o exemplo de ‘O Plano Perfeito’ do Spike Lee – esse sim um filme brilhante – além das infinitas crias de ‘Ocean´s eleven’, mas, puxando pela memória, você talvez se lembre que isso pode remontar a ‘Uma rajada de balas’ (Bonnie and Clyde) de 1967!(Lembrando também que ‘Ocean’s Eleven’ é uma refilmagem de um longa de 1960). O fato é que ladrões de bancos (ou cassinos, museus, etc) tem uma aura em torno de si, justificando a freqüente demanda de filme para esse nicho específico, e fiquei pensando no motivo disso.

Acho que em filmes como esses a esperteza dos personagens principais salta à vista do espectador, aparece como figura central num fundo, onde o próprio roubo é secundário. É como o personagem de Clive Owen diz bem no princípio de ‘O Plano Perfeito’: “Por quê? Porque eu posso”. E é a mais pura verdade, quando uma personagem demonstra uma mente extremamente engenhosa, ela é capaz de fazer o público duvidar da validade das leis aplicadas àquela personagem. O público não tem outra alternativa a não ser pensar “Genial!”. Quando os ladrões são capazes, além de tudo, de realizar seu roubo sem portar em nenhum momento uma arma, ameaçar a vida de ninguém ou de entrar e sair sem serem vistos, aí a emoção do público é ainda maior, e torcemos pelos ladrões. Na vida real também é assim, acredito. Basta lembrar dos ladrões que entraram numa agência do Banco Central em Fortaleza, em Agosto de 2005. Os comentários sobre o caso foram enormes, muitos deles exaltando a inteligência dos ladrrios sobre o caso foram enormes, muitos deles exaltando a inteligões.

Verdade seja dita também, o roteiro na maioria das vezes dá uma ajudinha para os ladrões. As pessoas de quem eles roubam são sempre bancos - aqueles lugares detestáveis que ganham dinheiro enquanto você passa horas nas filas -, ou de pessoas igualmente detestáveis. Em ‘O Plano Perfeito’, Clive Owen e sua equipe roubam um banco, que pertence a um velhinho muito distinto, mas com um segredo horrível. Em ‘Ocean´s Eleven’ a turma do George Clooney rouba um dono de cassino que é um sujeito nada agradável. Como simpatizar com pessoas assim? Melhor simpatizar com a esperteza dos ladrões, não? Já que o cinema promove essa realização de fantasias, na segurança do sofá da sua casa.

Uma outra coisa que me ocorre - baseada em algo que li alguns anos atrás sobre histórias em quadrinhos de super-heróis (mas já não me recordo de quem escreveu) - é o argumento que criticava histórias de super-heróis dizendo que se alguém pudesse dispor de poderes fora do normal, sempre usaria esses poderes para benefício próprio. E não é difícil concordar com essa afirmação. Ela se aplica muito facilmente aos filmes de roubo também. Ao invés de tecer uma crítica à glamourização dos ladrões de banco, eu proponho que esses filmes contam uma bela verdade. Quem dispõe de habilidades elevadas, só as usará para benefício próprio, deixando os outros reles seres humanos nas filas de banco. As habilidades que aparecem nos filmes é que tendem a ser um pouco exageradas, mas de vez em quando a realidade mostra que também é capaz de produzir algumas coisas extraordinárias, como é o caso do roubo do Banco Central. Pois bem, o que quero dizer é: esses filmes na verdade revelam que a natureza humana é egoísta e engenhosa, qualquer um que consiga se colocar num degrau mais elevado vai usar suas habilidades para conquistar mais.

A questão de se isso é benéfico ou não para a sociedade - cuja resposta é bem óbvia - não interessa nessa discussão. Meu ponto é que mesmo os filmes mais toscos sobre assaltos à banco revelam um nervo exposto da natureza humana.


Filmes sobre assaltos:
O Assalto - (D. Mamet, 2001)
Trapaceiros - (W. Allen, 2000)
Matadores de Velhinha - (J. e E. Coen, 2004)
Um Plano Brilhante - (M. Radford, 2007)
A Cartada Final - (F. Oz, 2001)
Uma Saída de Mestre - (F. Gary Gray, 2003)
Thomas Crow - A Arte do Crime - (J. McTiernam, 1999)
A Senha: Swordfish - (D. Sena, 2001)

Filmes sobre assaltos que são excelentes:
Cães de Aluguel - (Q. Tarantino, 1992)
O Plano Perfeito - (S. Lee, 2006)
Onze Homens e um Segredo - (S.Soderbergh, 2001)

Alguém tem mais sugestões?

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Filmes de Maio


Acho que foi o mês campeão, negativamente falando. Foram apenas 24 filmes, não sei explicar muito bem por que. Mas tenho um palpite que as badalações, um tanto incomuns na minha vida, ficaram um pouco mais freqüentes esse mês. E eu troco muito facilmente uma noitada na rua por uma boa sessão dupla de filme na minha caminha quentinha, mas não sei o que aconteceu neste Maio. As idas ao cinema não foram grande coisa também, coroadas por uma mais que broxante sessão de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, mas pontuadas por dois filmes bons, pelo menos: Homem de Ferro e Speed Racer.



Ed Wood – (T. Burton, 1996)
Veludo Azul – (D. Lynch, 1986)*
O Falcão Maltês – (J. Houston, 1941)

Speed Racer – (Wachoski Bro, 2008)
Manhattan – (W. Allen, 1979)
A Felicidade não se Compra – (F. Capra, 1946)
A Última Sessão de Cinema – (P. Bogdanovich, 1971)
A Regra do Jogo – (J. Renoir, 1939)
Os Homens Preferem as Loiras – (H. Hawks, 1953)
Sem Destino – (D. Hopper, 1969)




Margot e o Casamento – (N. Baumbach, 2007)
Trainspointting – (D. Boyle, 1996)*
C.R.A.Z.Y. – Loucos de Amor – (J. Vallée, 2005)
Operação França – (W. Friedkin, 1971)
Matrix Reloaded – (Wachowski Bro, 2003)*
Secretária – (S.Shainberg, 2002)
Borat – (L. Charles, 2006)

Desejo e Reparação – ( J. Wright, 2007)




Homem de Ferro – (J. Favreau, 2008)
Kalifornia – (D. Sena, 1993)
Tudo que você queria saber sobre sexo mas tinha medo de perguntar – (W. Allen, 1972 )

Across the Universe – (J. Taymor, 2007)
Preto e Branco – (J.Toback, 1999)



Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal – (S. Spielberg, 2008)

Saldo: 3 idas ao cinema e 21 DVDs. Asteriscos marcam filmes revistos.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal



Confesso que o trailer de Indiana Jones me deu arrepios na primeira vez que assisti. E nas outras também. O som da musiquinha inesquecível de John Williams foi tão nostálgico que cheguei a sentir o gostinho de infância na boca. De todos os filmes ‘clássicos’ dos anos 80, esse, talvez, tenha sido o que mais assisti. E como eu brinquei de Indiana Jones no quintal da minha casa! Bons tempos aqueles.

É no mínimo lamentável, portanto, que a continuação de uma trilogia clássica seja um filme tão sem sal e desprovido de qualidades como esse. E olha que eu apostava todas as minhas fichas nessa produção.

Nessa nova aventura Indiana Jones é envolvido com militares comunistas, liderados pela coronel Irina Spalko, uma Cate Blanchett totalmente caricatural e insossa. Quando começa a ser investigado também pelo FBI, dado seu envolvimento com os comunistas, Indy é contatado por Mutt Williams (Shia LaBeouf) um rapaz que solicita sua ajuda para localizar a mãe e um antigo conhecido de Indy.

Desde o princípio da trama (nos primeiros minutos mesmo) fica claro que os personagens investigam qualquer tipo de evento alienígena, e como se isso não fosse por si só enormemente destoante das aventuras anteriores de Indiana Jones, o roteirista (David Koep) ainda faz o favor de incluir temas como habilidades parapsíquicas. Temas, aliás, que são a principal gordura extra do roteiro, uma vez que são apenas mencionados ou levemente tocados sem que seu papel seja significativo para fazer a trama andar. Outra coisa que incomoda bastante é o fato de que em dois momentos aparecerem ‘nativos’ nos sítios arqueológicos que Indiana investiga, que atacam o professor, mas dos quais não sabemos nada, tampouco porque eles atacam Indiana Jones. E assim como surgem eles desaparecem da trama sem mais nem menos. Como esse, existem ainda outros buracos que permanecem sem resposta no roteiro.

A sensação que o filme todo proporciona é que existem eventos que aconteceriam se aqueles personagens estivessem lá ou não. É uma grande sensação de gratuidade. Não vemos Indiana Jones no filme. E nem sabemos por que ele continua investigando os eventos da forma que o filme mostra. Afinal, não existe motivação suficiente para que ele continue. Pelo menos, se tomarmos os outros filmes como exemplo, Indiana Jones é um personagem difícil de ser demovido das próprias vontades, e toma sempre o caminho mais curto e simples para realizar algo. É como se fosse um filme de Indiana Jones em que as ações pudessem ser executadas pelo seu Zé da padaria da esquina.

Assim como a personagem título, a vilã da história também não tem brilho e seus desejos são altamente superficiais. Sabemos que ela se interessa pelos dons psíquicos da caveira de cristal mas não temos um mapa preciso do que ela pretende e como executará o que pretende. Ela também não oferece um antagonismo eficiente à Indiana Jones, justamente porque é muito superficial. Talvez o pior papel de Blanchett em toda sua carreira.

Indiana Jones e O Reino da Caveira de Cristal é, portanto, uma decepção gigantesca. Chegou a me dar sono no cinema. Esperamos 18 anos por uma continuação, mas eu ficaria de bom grado esperando mais uns cinco se isso fosse produzir um filme melhor.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Cabeças rolando na velocidade do Mach 5

As coisas não andam bem para os Wachowski, Speed Racer amargou um terceiro lugar nas listas dos filmes mais assistidos da semana. Arrecadou míseros 19 milhões nas bilheterias, sendo que custou 160 (mas os valores não foram confirmados oficialmente). A boataria continua envolvendo Emile Hirsch demitindo seu agente, e Joel Silver, o entusiasmadíssimo e hiperbólico produtor de filmes de ação, com a cabeça a prêmio na Warner. Sim, porque corre à boca pequena que o estúdio pretende terminar suas relações contratuais com o produtor. Mas, se perguntados, os executivos da Warner desmentem.

Quem leu minha resenha sabe que gostei muito do filme, e por isso acompanho as notícias com pesar. Gosto do trabalho dos Wachowski, não que eu ache Matrix um Cidadão Kane da vida, mas considero um filme que redefiniu a ficção científica. Antes, um gênero reservado aos nerds, agora um tipo de filme mais amplamente consumido. Os caras ainda conseguiram fazer efeitos visuais estilosos e dar uma aplicabilidade narrativa para esse estilo. Pode não ser genial, mas certamente não é pouco.

Quanto a Joel Silver, o buraco ainda é mais embaixo. Eu não sou um grande apreciador de filmes de ação, tenho, inclusive, grandes dificuldades de achar algum de qualidade quando sinto uma vontade súbita de assistir um filme desse tipo. Mas acho muito triste pensar que alguém que já encheu os cofres de estúdios americanos, com produções como Máquina Mortífera e Duro de Matar, seja dispensado porque resolveu investir em uma dupla de diretores não tão convencionais. Afinal, todos têm direito a dar uma escorregada. E considero realmente que esse filme foi uma escorregada, do ponto de vista de produção executiva. Porque, por mais romântica que possa ser minha visão de cinema, eu entendo perfeitamente que um filme como Speed Racer tenha que dar lucro.

A verdade é que com o passar dos anos Speed Racer pode realmente se revelar como um filme dispensável e frívolo, algo que ninguém mais vai lembrar daqui a alguns anos. Mas, baseado nas ainda recorrentes referências a Matrix (um filme de quase dez anos atrás), espalhadas em uma série de produções pop, desconfio seriamente que a sombra de Speed Racer não desaparecerá assim tão cedo. Mas, pode ser que eu esteja errado.