Retornei à escola depois de quase dois meses fora, cheguei no dia 1 de Março, mas, em verdade deveria ter chegado no dia 4 de Janeiro, quando as aulas recomeçariam depois de duas semanas de recesso para as festas de fim de ano. Por um problema de saúde grave na família não pude regressar, mas aqui estou eu de volta.
A recepção ocorreu com um taller de estética da Televisão, nada muito interessante, não vale nem comentar. Uma semana depois e eu estava mergulhado no taller de Fotografia, que nos ensinaria a manejar uma câmera de 16 mm para as filmagens dos curtas de três minutos que cada um fará, uma espécie de exercício de graduação do primeiro ano. Na segunda estava empolgadíssimo, pela primeira vez nós iríamos ver a famosa câmera que Akira Kurosawa usava e doou à escola. Vê-la desmontada foi um pouco anticlimático, mas depois de montada com a lente e o magazine foi sensacional! Nada mais fetichista para um estudante de cinema do que tocar e aprender os fundamentos da fotografia numa câmera usada por um dos maiores cineastas do mundo, reconhecido por seu preciosismo na fotografia. Dizem que Kurosawa chegava ao set, num dia de filmagem, pela manhã, sentava-se em sua cadeira e esperava até que a luz estivesse ideal, as vezes ficava dias no set sem filmar. Isso com equipe e atores – as vezes centenas deles – vestidos e maquiados, luzes postas, esperando caprichosamente que o sol fizesse o seu trabalho. Não é à toa que a fotografia de seus filmes seja impecável.
Infelizmente a magia durou pouco. Eu sabia que o ofício da fotografia requeria dedicação e muito conhecimento técnico, mas não sabia que era tão chato. A questão é que esse taller é tradicionalmente realizado por um professor alemão um tanto quanto 'exótico', digamos. Jorg Geissler é um reconhecido profissional na Alemanha e vem todos os anos realizar esse taller prático e teórico com os alunos de primeiro ano, e é um divisor de águas, ou você ama o cara ou o odeia. Eu confesso que estou no segundo grupo. Pra começar ele marcava as aulas para mais cedo do que o costumeiro e deixava a classe muito tempo depois da hora. Além disso ele tem a interessante mania de gritar com os alunos quando estão em filmagem, basta que você cometa algum errinho em algum dos equipamentos cujos preços foram exaustivamente citados por ele em sala. Houve choro, ranger de dentes, gritaria e, principalmente, muitas, muitas horas de filmagem. Por exemplo, começamos a filmar – desta vez em vídeo – numa quinta à noite, paramos as 2h30min da manhã, acordamos às 8h30, seguimos filmando até as 11h, depois fomos para o telecine, onde ficamos direto até as 18h, com 40 min para almoçar, e depois seguimos filmando de 19h até as 3h da manhã. No sábado a filmagem seguiu das 9h30 até 16h, com 1h30min para almoço. No sábado, o roteiro que filmávamos já tinha sofrido tantas mudanças drásticas para simplificar nossa vida, que eu duvido que vá fazer algum sentido depois de montado. Além disso, depois de tantas horas de trabalho (e eu nem citei as horas de filmagem em película da semana anterior) e privação de sono, ninguém suportava mais ver a cara de ninguém. Enxergávamos uns aos outros como horas de descanso em potencial, então, se alguém se demorava a realizar algum plano, olhávamos gravemente para essa pessoa pensando nas horas que ela estava nos roubando.


A recepção ocorreu com um taller de estética da Televisão, nada muito interessante, não vale nem comentar. Uma semana depois e eu estava mergulhado no taller de Fotografia, que nos ensinaria a manejar uma câmera de 16 mm para as filmagens dos curtas de três minutos que cada um fará, uma espécie de exercício de graduação do primeiro ano. Na segunda estava empolgadíssimo, pela primeira vez nós iríamos ver a famosa câmera que Akira Kurosawa usava e doou à escola. Vê-la desmontada foi um pouco anticlimático, mas depois de montada com a lente e o magazine foi sensacional! Nada mais fetichista para um estudante de cinema do que tocar e aprender os fundamentos da fotografia numa câmera usada por um dos maiores cineastas do mundo, reconhecido por seu preciosismo na fotografia. Dizem que Kurosawa chegava ao set, num dia de filmagem, pela manhã, sentava-se em sua cadeira e esperava até que a luz estivesse ideal, as vezes ficava dias no set sem filmar. Isso com equipe e atores – as vezes centenas deles – vestidos e maquiados, luzes postas, esperando caprichosamente que o sol fizesse o seu trabalho. Não é à toa que a fotografia de seus filmes seja impecável.
Infelizmente a magia durou pouco. Eu sabia que o ofício da fotografia requeria dedicação e muito conhecimento técnico, mas não sabia que era tão chato. A questão é que esse taller é tradicionalmente realizado por um professor alemão um tanto quanto 'exótico', digamos. Jorg Geissler é um reconhecido profissional na Alemanha e vem todos os anos realizar esse taller prático e teórico com os alunos de primeiro ano, e é um divisor de águas, ou você ama o cara ou o odeia. Eu confesso que estou no segundo grupo. Pra começar ele marcava as aulas para mais cedo do que o costumeiro e deixava a classe muito tempo depois da hora. Além disso ele tem a interessante mania de gritar com os alunos quando estão em filmagem, basta que você cometa algum errinho em algum dos equipamentos cujos preços foram exaustivamente citados por ele em sala. Houve choro, ranger de dentes, gritaria e, principalmente, muitas, muitas horas de filmagem. Por exemplo, começamos a filmar – desta vez em vídeo – numa quinta à noite, paramos as 2h30min da manhã, acordamos às 8h30, seguimos filmando até as 11h, depois fomos para o telecine, onde ficamos direto até as 18h, com 40 min para almoçar, e depois seguimos filmando de 19h até as 3h da manhã. No sábado a filmagem seguiu das 9h30 até 16h, com 1h30min para almoço. No sábado, o roteiro que filmávamos já tinha sofrido tantas mudanças drásticas para simplificar nossa vida, que eu duvido que vá fazer algum sentido depois de montado. Além disso, depois de tantas horas de trabalho (e eu nem citei as horas de filmagem em película da semana anterior) e privação de sono, ninguém suportava mais ver a cara de ninguém. Enxergávamos uns aos outros como horas de descanso em potencial, então, se alguém se demorava a realizar algum plano, olhávamos gravemente para essa pessoa pensando nas horas que ela estava nos roubando.

Ao final, depois de muitas brigas, eu estou vivo. Mas tenho esperança que na semana que vem tudo melhore, virão duas semanas de edição e mais duas de som. E os tambores já estão soando para o grande momento deste primeiro ano: os três minutos. Os grupos já estão montados e resta pouco tempo para que comecemos a pré-produção. E, se no taller de fotografia já foi uma loucura, imagino como vai ser quando cada um de nós tiver que filmar um curta metragem de 3 minutos em película. Essa escola vai virar de cabeça pra baixo.

3 comentários:
Para mim, Sonhos é o melhor de Kurosawa.
Tem a ver com esse processo doloroso...
Besos
Finalmente li esse post. Essa sua rotina insana de filmagens me lembra meus tempos de construção de robozinho na aula de Robótica. Ficou legal a foto sua com a câmera. "Chic demais" como diz meu ex-gerente. Doido.
Ah, e eu acho que nunca vi um filme do Akira Kurosawa, mas este comentário não é relevante.
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