Quando Tropa de Elite ganhou o Urso de Ouro eu escrevi um post enorme, quase três páginas, com uma série de pensamentos que me perturbavam na época, e que foram catalisados pelo prêmio. Resolvi não postar.
Porém, quando Valente saiu direto em DVD, fiquei muito ansioso para conferir. Adoro o trabalho de Neil Jordan e sou fã de carteirinha de Jodie Foster. As críticas, no entanto, foram negativas em todos os lugares, o que fez minha curiosidade, espantosamente, se aguçar cada vez mais ao invés de retrair. Mas foi o veredicto principal das críticas o fator essencial para que meu interesse aumentasse: o filme nada mais era do que uma defesa da justiça com as próprias mãos. Encucadíssimo com esse veredicto, e cético ao fato de que Neil Jordan defenderia tal ponto de vista, fiquei imbuído de uma vontade enorme de provar que todos estavam errados. Bom, talvez eu não possa fazer isso mais, agora que assisti o filme.
Cineastas são pessoas chamadas a mostrar seu ponto de vista sobre o mundo, e os melhores o fazem traduzindo esse ponto de vista em uma forma absolutamente visual. O problema é quando lidam com temas polêmicos como este. E se alguém quiser contar uma história sobre um nazista? Um nazista sem arrependimento algum? Ele por acaso terá que indexar a sua história um certo tipo de moral transcendente, do tipo, ‘ele sempre se dá mal no final’. Será que nós vivemos realmente num mundo onde uma espécie de justiça universal opera e tem que aparecer obrigatoriamente no cinema?
A questão é que assuntos como a moralidade podem ser abordados de infinitas possibilidades, e certamente cada diretor conta com uma diferente. A pessoa que assistiu Valente comigo adorou o filme, só se desagradou pelo fato de Jodie Foster não torturar mais suas vítimas. Mas o que me irrita realmente é que pessoas que teoricamente deveriam entender de cinema teçam comentários meramente temáticos sobre um filme.
Sendo assim, Valente sofreu críticas sobre seu tema, mas eu me pergunto, porque Tropa de Elite não recebeu o mesmo tratamento? Por que em Tropa de Elite o personagem principal teoricamente representa a lei? Mas ambos são tão assassinos quanto. Com uma diferença: Capitão Nascimento é também um torturador. (Certamente meu companheiro do filme de hoje gosta mais desse último do que de Valente). (Reparem que também não estou entrando em questões estéticas de um e outro aqui, justamente porque isso é o que está sendo questionado, a falta de julgamento estético em prol de julgamentos de conteúdo).
O que eu acho, honestamente, é que a violência é um flagelo. Acho até que é bastante difícil discordar disso, fazendo com que meu ponto de vista não seja tão original assim. Eu posso ficar falando durante vários parágrafos sobre o horror da violência, qualquer um com um mínimo de educação poderia. A questão é que eu me proponho a falar de cinema, e, sendo assim, o que realmente importa são as minhas opiniões sobre a estética cinematográfica e não o que eu penso sobre a violência.
Um diretor certamente passa certo tipo de conteúdo com seus filmes. Em outras palavras, acredito que um realizador cinematográfico pretende que seu público compreenda a mensagem que ele se propôs a passar (pelo menos nos modelos mais próximos do cinema narrativo). Cabe a um crítico de cinema não questionar o ponto de vista de um diretor sobre a vida, mas sim demonstrar de que maneira esse ponto de vista é articulado em um filme e se ele é competente o suficiente para atingir o público emocional ou intelectualmente. Questionar a visão de um artista sobre a vida é trabalho de filósofos e sociólogos.
Não que esse tipo de questionamento não tenha lugar, mas certamente não ocupa a posição central. Obviamente que não conseguimos seguir esse princípio sempre (estou me lembrando nesse momento de ter comentado em uma outra ocasião, que tinha achado Onde os Fracos Não tem vez muito pessimista, mas não me lembro de ter falado que o filme era ruim por causa disso). As incoerências é que me incomodam. Porque insultar um e glorificar outro? Porque o Brasil é uma nação com problemas sociais e o filme de Padilha teoricamente espelha isso? Mas os EUA também não são uma nação ferida? Seus cidadãos não sofrem de uma neurose coletiva e doentia? A guerra e a violência não parecem fazer rima com o hino nacional americano? Essa desculpa não cola, exatamente porque pode ser usada em ambos os casos.
Se julgar um filme por sua temática fosse o mais indicado, hoje em dia nós não estaríamos mais assistindo O Nascimento de Uma Nação, porque o racismo como um fenômeno institucional caiu. E o Encouraçado Potemkin só seria assistido em cineclubes de alunos universitário membros do PSTU.
Considerando, apenas para efeito de análise, que Neil Jordan realmente tenha construído uma obra que defende a justiça com as próprias mãos, que espécie de comentários isso pode gerar? Provavelmente os piores. Mas esses comentários são suficientes para desmerecer um filme como um fenômeno estético?
E só pra jogar mais lenha na fogueira, fico pensando em outros casos. Por exemplo, essas bandas de hardrock européias que pregam uma forma de neonazismo. Alguém seria capaz de defender apenas a ‘qualidade musical’ delas independente do conteúdo? E vocês, o que acham disso tudo?
10 comentários:
Caramba, texto excelente. Precisamos de mais autores assim, que desafiam os leitores. Bem, muito obrigado pela menção e gosto muito do Monolito (ai, adoro esse nome!).
Eu vi Tropa de Elite e vi Valente. Gostei de ambos. Achei porém, o primeiro melhor. São ambos filmes que retratam uma realidade pessimista. Não são agradáveis de se ver. Engano de quem considera Nascimento um herói, e podem ter aqueles que vêem a personagem de Jodie Foster como uma bondade para a sociedade. É tudo uma questão de moral. Acho que o filme de Padilha deixa mais isso de lado para retratar mais como o sistema do Brasil funciona, como a hipocrisia existe por todos os lados e como a violência não consegue abolir a violência. Uma guerra sem fim. Toca porém, na questão da moralidade ao construir seu personagem. Fascista? Nem um pouco. Apenas um homem querendo se ajustar no meio social e tentar fazer uma diferença. Ele utiliza meios extremos para conseguir o quer. Ele precisa disso? Provavelmente. As coisas não são preto e brancas, são complexas. Um ato não pode ser reduzido a certo e errado. É o que acontece com a personagem de Jodie. Ela é uma mulher agoniada e vulnerável, que não quer mais sentir insegurança. Sua busca por vingança se torna algo mais. Se torna um meio dela de se livrar dos males em sua volta e os males dentro de sí mesmo. É questionável sim o ato do policial ao final, completamente, mas talvez era o que deveria ter sido feito. Vivemos em uma sociedade assim. Prevalece os mais fortes. Seguimos a lei de Darwin. Não podemos ser fracos. Ambos filmes levatam e tratam muito bem essas questões de moralidade. Realmente desafia o espectador a tomar uma postura em relação ao que ele vê.
Bem, é um tema a ser muito discutido e não um muito fácil de ser discutido, justamente por ser muito frágil. Gostei do fato de ter levantado essa discussão.
Sobre diferenciar estética e conteúdo, eu, por exemplo, achei o trabalho de direção em Valente superior ao de roteiro, que achei muito enfraquecido em momentos. Os visuais de Jordan são magníficos. O mesmo acontece com a intensidade de Tropa de Elite. Por outro lado, temos Leões e Cordeiros, com debates calorosos, interessantes mas sem uma visão cinematográfica contundente.
Costumo analisar isso, cinema. Mas não se pode ser ignorante em relação ao que o cinema apresenta, sejam discussões, debates e desafios morais.
Ciao!
Primeiramente, Daniell quero lhe dar meus parabéns por todo o alcance que seu texto conseguiu dentro de mim. Realmente todos os seus apontamentos têm fundamento. O cinema é uma grande arte, como meu próprio blog diz, mas ainda sim uma arte que manipula a verdade de acordo com o que é ou não coerente, visando manter reputações de estúdios e diretores, e atores também. Deviam tratar a violência como uma válvula de escape ao invés de encará-la como um artifício que promovedor da justiça, do tipo, "sabe, você está apanhando porque merece, é bandido e eu sou o herói, e preciso torturar você para fazer a justiça de verdade".
Infelizmente não pude conferir Valente ainda, mas pretendo em breve, para absorver o modo com que conduzem a trama. Sobre "Tropa de Elite", concordo com seu ponto de vista, e acho que ele foi esplêndido por não manipular a verdade. Não é o fato de exibir uma farda que torna o Capitão Nascimento um herói ou um bandido. Aliás, há muito que a polícia deixou de ser apenas o herói da história, especialmente no Brasil. Existe um ditado antigo que diz: "não se cura o mal com a prática do mal". Mas, isto, infelizmente é inaplicável. O sistema de vida do ser humano é uma coisa engraçada; prega-se os direitos humanos em prol da bandidagem, certo? E boa parte do público ficou chocada com o nível de agressão que o Bope impõe para conseguir seus objetivos, certo? Esquecem que muitos vivem num redoma de vidro, impermeável aos perigos do mundo lá fora. Aí fica fácil criticar os meios que levam aos fins.
O mundo é assim. Não há espaço para um ou outro bancar o herói. Sabemos que é necessário conter um malefício, e o jeito de fazer isso não deve entrar em discussão, eu acho. Visões pessimistas acerca da violência existem, sim, e são bem verossímeis. A estrutura que sustenta a sociedade está enferrujada, e enquanto não consertarem os alicerçes, esta estrutura será corroída, mais e mais. E a violência começa aí, como algo natural e intrínseco a um ser humano que nasce sobre esta estrutura.
Obrigado por citar-me no início do texto, você sabe que é um amigo, e sempre vou estar aqui no Monolito.
Abraço, e parabéns outra vez!
Eu me lembro que quando Tropa saiu eu fiquei indignado com algumas coisas. Os críticos que chamaram o filme de facista me incomodavam muito! Será que nenhum deles tinha visto Ônibus 174? Esse documentário chega a ser condescendente com um assassino, e é de Padilha. Por isso, eu sinceramente não acho que Tropa de Elite seja um filme facista. É um filme cru e que relata a violência sem filtros, da mesma forma que Assassinos por Natureza, do Oliver Stone, que também, acredito, está longe de ser um defensor da violência gratuita.
O meu problema com Tropa de Elite, talvez não tanto com o filme, é somente a maneira como as críticas a eles se articularam. Na maioria dos textos você não encontra comentário de natureza estética, mas sim social. E vejam, eu acho isso importante. Se eu não considerasse importante discutir sobre a natureza humana e social eu não teria me formado em psicologia. Mas acho também que no campo artísticos essas discussões serão sempre secundárias. Mesmo num documentário. Eu realmente achei muito empobrecida a crítica especializada de cinema na época do lançamento de Tropa. E também não acho que o filme seja tão bom assim, do pondo de vista estético! No festival de Berlim por exemplo, Tropa de Elite estava concorrendo com Sangue Negro, alguém realmente acha que Tropa de Elite é melhor do que Sangue Negro?! Eu digo isso porque reforça a minha tese. O prêmio foi dado por uma questão exterior à discussão cinematográfica, é um prêmio de relevância social e não de triunfo artístico. E isso me incomoda tremendamente! É claro que eu fico satisfeito com a vitória brasileira, mas eu ficaria mais satisfeito quando isso acontecesse por uma questão de total êxito estético, quando fossemos capaz de olhar para nossos umbigos, identificar nossos problemas e transformar isso numa narrativa cinematográfica espetacular. Porque, eu acho Sangue Negro espetacular, mas Tropa de Elite eu acho bom, não há nada lá que eu não tenha visto em outros lugares.
WALLY: Eu acho também que você acertou em cheio Wally, o roteiro de Tropa é infinitamente melhor do que o de Valente, cheio de falhas. Aliás, eu acho que não ficou muito claro no meu post, mas Tropa de Elite sem dúvidas é bem superior a Valente. Minha questão toda era com relação a forma como foram julgados diferentemente, mas em comparação um com o outro certamente que Tropa é melhor. Mas em termos de cinematografia tenho que admitir que gostei mais do filme americano do que do brasileiro. E você fez uma constatação ótima sobre uma das teses do filme, a de que a violência não pode deter a violência. Muito bem observado, mas aí entra um outro questionamento meu. O público em geral consegue perceber e distinguir isso? Um consumidor médio de cinema consegue perceber o caminho tenebroso em direção as sombras que Matias faz? Em Valente eu tenho certeza que não, mas em Tropa de Elite tenho minhas dúvidas.
“Mas não se pode ser ignorante em relação ao que o cinema apresenta, sejam discussões, debates e desafios morais”
Concordo com você inteiramente, inclusive porque as vezes o cinema é capaz de lançar perspectivas inteiramente novas sobre assuntos muitas vezes considerados como tabus (como em O Lenhador, por exemplo, uma perspectiva difícil de ser encontrada sobre a pedofilia). Eu só acho que as discussões morais nos filmes são ainda de importância menor do que as articulações estéticas (eu considero roteiro como estética também).
WEINER: “O cinema é uma grande arte, como meu próprio blog diz, mas ainda sim uma arte que manipula a verdade de acordo com o que é ou não coerente...”. Grande comentário, aliás eu acho que esse é um ponto central. Eu tinha um professor que uma vez disse: “O cinema é um lugar que as pessoas pagam para serem enganadas. Eu pago um ingresso, entro numa sala escura e digo: contem uma mentira pra mim!”. Concordo com esse professor, inclusive ser enganado nunca foi tão saboroso como no cinema! E é sem dúvida nenhuma que temos que reconhecer que tamanha capacidade acaba por resultar em uma gigante responsabilidade, como já diria nosso querido Homem-aranha. Ou pelo menos deveria ser assim. E é justamente por isso que eu me preocupo com a crítica, porque pra mim, a crítica é aquele tipo de exercício intelectual que visa ampliar a experiência cinematográfica para o grande público. E por isso que acho fundamental que os críticos não defendam seu próprio ponto de vista sobre determinados assuntos, mas que se dediquem a descortinar o ponto de vista de um diretor através de um filme. Por isso minha birra das discussões conteudistas em prol das discussões estéticas.
Mas eu sei também que é muito tentador falar de nossas próprias opiniões, eu caio nesse erro frequentemente. Mas mantenho uma vigilância serrada também.
Legal essa sua iniciativa, Daniel. Bom, eu não vi Valente e tudo o que sei sobre a história foi o que você postou agora, então já vai desculpando algum equívoco meu a respeito do filme da Jodie Foster.
Bom, a questão é que ambos os filmes soferam duras críticas nos EUA, citando mais ou menos as mesmas situações: o fato de serem torturados, não darem a mínima para os direitos humanos, e fazerem justiça com as próprias mãos. Me lembro até de ter lido um crítico dizer que "os brasileiros deveriam ter vergonha de gostar de um filme como Tropa de Elite por ser um panfleto facista".
Enquanto Tropa foi criticado, também foi elogiado tanto lá como aqui. O fato é que Tropa serviu como uma válvula de escape. Ele representa todos nós que já não aguentamos mais nada da violência, do tráfico de drogas, e outras situações que atingem nosso país todo santo dia. Nós aplaudimos as ações do Capitão Nascimento pq é uma forma de podermos acabar com essa injustiça, essa violência toda nós mesmos. É a forma que encontramos de fazer justiça.
Tropa também foi bastante elogiado pelo fato de expor o funcionamento de um FBI às avessas. O BOPE, a nossa própria polícia que faz de tudo para manter a sociedade segura, teve as suas ações torturadoras, as suas cruéis técnicas, tudo foi exposto. Mas em vez de ser criticado, tudo foi endeusado, glorificado pela população. A vontade de fazer justiça foi o feito que gerou as inúmeras cópias em DVD e o grande sucesso do longa muito antes de estrear no cinema.
Geralmente, a sociedade sofre as influências do crítico quando assiste a um filme, porque já sabe os erros, os acertos, a forma que ele foca sobre o assunto e tudo mais. Neste caso, entretanto, os críticos é que foram influenciados pela população. Simplesmente pq o filme só ganhou esse hype todo, por causa da forma com que os brasileiros viram o filme e concordaram com essa temática. Os críticos talvez nem teriam esse espaço todo, se nós não tivéssemos gerado todo esse burburinho. Vale a pena lembrar tbm q todos vêem essa justificativa (a de que "eu gostei, pq não aguento mais ver gente morta por causa de traficante FDP"), mas nem todos são obrigados a concordar.
A verdade é que não podemos esperar a mesma recepção de filmes com temáticas semelhantes se foram feitos em países diferentes. As torturas de Tropa jamais serão vistas da mesma forma que as torturas de Valente. A realidade brasileira é diferente da realidade americana. Lá há punição para quem quebrar a lei, o que aqui não ocorre. Lá quem fere os direitos humanos é mal visto por todos. Aqui se você não der um jeitinho brasileiro, você se fode. E por aí vai.
Os dois filmes foram criados em ambientes diferentes, por isso as recepções diferentes.
Daniell, vejo que dividimos a mesma visão em relação a muitas coisas. Eu acho que Valente é uma paradoxo. Não existem respostas fáceis para aquilo. A personagem de Foster se viu naquele caminho sombrio mas não enxergava escuridão, mas sim, uma forma de viver, de ser justa e de uma forma, sair da doma de vidro que antes de ser espancada vivia dentro. Eu respeito sua personagem. Entendo o ato do policial. Mas não por isso que torna-se fácil justifica-los, principalmente na sociedade conturbada de hoje. E concordo, muitos não irão perceber o caminho de Matias à escuridão. Alias, acho esse o melhor ponto do filme, o estudo de personagem e a metamorfose de Matias. Tanto que o filme termina de forma perfeita, com seu primeiro ato concreto de maldade, pavimentando sua entrada definitiva no caminho tenebroso anteriormente habitado por Nascimento.
E concordo plenamente com o que disse por último, o cinema pode sim lançar novas percepções. Alias, o cinema já mudou minha visão sobre atos, pessoas e etc. Meu filme preferido, Beleza Americana, me deu novos olhos. Enxergei a vida de uma forma única depois de ve-lo. É o poder do cinema.
Também concordo que apesar de ser brasileiro, o filme de PTA merecia muito mais o Urso do que o filme do Padilha. Mais pela estética claro. Afinal, tem que ser um dos filmes mais bem dirigidos dos últimos anos (ou todos os tempos). Tropa de Elite é importante e muito bem arquitetado, mas não supera a magnitude de Sangue Negro, sem contar que o filme de PTA lança uma visão subjetiva e subversiva à sociedade emergente e ao mesmo tempo decadente dos Estados Unidos. Se isto não é importante, não sei o que é.
Ciao!
Nossa, é uma incrivel verdade o que dizes. No caso de Tropa, ele é um ótimo filme, porém o tema dele não tem mais graça para quem acompanha, entretanto, o brasileiro de senso comum sentiu uma falta tremenda de um "heroi" que tem como proposito matar os "bandidos" baseando-se no que acontece ao seu redor. Como estudante de direito, sei muito bem que não é matando um ser humano ou levar ao constrangimento de sua honra que vai ajudar o país a ser de primeiro mundo não. tem que acontecer o fim da desigualdade social e projetos que elevam o ser humano ao status que ele merece. mas se o povo gosta de um heroi de cunho facista ... ai sei não ...
E não tinha ideia de que Valente seja fraco ... pena.
vou adicionar o seu blog com o meu
abraços
Daniell, esse seu texto está excelente.
Eu acho que a questão central é a seguinte. "Tropa de Elite" nexe muito com nossos sentimentos de passividade diante das coisas. Aqui, a Justiça não funciona (ou demora a acontecer) a polícia não cumpre seu papel e por vivermos a mercê dos marginais é que a violência ou a atitude de Capitão Nascimento fizeram sucesso. Ele era a exceção nisso. Ele fazia acontecer.
Talvez "Valente" tenha sido criticado, nos EUA, porque este é um país que acredita na justiça. Pode perceber que os EUA são um país calcado em garantias constitucionais e construído em cima de uma liberdade de crença, de expressão. Uma personagem como a da Jodie Foster, em "Valente", é criticada porque eles acreditam que a justiça acontece e que as pessoas não devem tentar consertar as coisas sozinhas. O que chega até a ser interessante, já que filmes como "Tempo de Matar" ou da série "Desejo de Matar" não receberam as mesmas críticas nas épocas de seus lançamentos.
MARCO: "Os críticos talvez nem teriam esse espaço todo, se nós não tivéssemos gerado todo esse burburinho"
Acho que concordo com você um pouco também. O hype do filme foi uma espécie de contra-ataque antecipado às críticas. Mas mesmo assim houve críticos que defenderam o filme de forma coerente. Um deles foi o Pablo Villaça, que gosto muito. Mas mesmo assim, eu acho que o filme tem suas qualidades sim. O meu objetivo nunca foi desmerecer Tropa de Elite, foi sim, tentar mostrar o sentimento de desconforto com algumas críticas que as vezes eu acho simplistas.
WALLY: “E concordo, muitos não irão perceber o caminho de Matias à escuridão (...)E concordo plenamente com o que disse por último, o cinema pode sim lançar novas percepções.”
É o cinema pode lançar novas percepções sim, eu só não sei se consegue com tanta eficácia. E sua resposta me deixou pensando, isso é culpa de quem? Das pessoas que não tem educação o suficiente, hoje em dia, pra digerir um filme razoavelmente, ou, dos cineastas que não conseguem acompanhar os novos tempos em questão de linguagem e comunicação com o público? Sinceramente não sei a resposta, mas confesso que essa pergunta me perturba um pouco.
JOHNNY STRANGELOVE: Bom o seu caso é excelente pra mostrar que críticas sociais e políticas a filmes podem funcionar também. Já que você é do Direito e isso lança perspectivas diferenciadas sobre o fenômeno cinematográfico (eu também vim de fora, da Psicologia). A verdade é que um filme não é unívoco, várias coisas podem ser extraídas dele, o problema é quando críticos tentam bancar advogados...
KAMILLA: “Talvez "Valente" tenha sido criticado, nos EUA, porque este é um país que acredita na justiça. Pode perceber que os EUA são um país calcado em garantias constitucionais e construído em cima de uma liberdade de crença, de expressão.”
Não poderia concordar mais com você! Acho até que em determinado momento do filme eles dizem uma frase engraçada: ‘se um bandido vai morrer existe uma lei para isso’. Não tenho certeza absoluta das palavras mas acho que foi mais ou menos isso. Ou seja, até pra matar tem que ser dentro da lei. E não que eu concorde com a pena de morte, mas já que ela existe que as coisas sejam feitas de acordo com a lei. E, se a gente por acaso acha alguma lei injusta, que tentemos levar alguém ao poder que pense como a gente, para que as leis sejam mudadas. Mas aqui no Brasil não, se a gente não concorda a gente simplesmente não cumpre. Acho que você está certíssima mesmo, a descrença na justiça é que fez esse filme tão popular.
Texto muito bom. Eh bom ver que ateh a arte pode (e deveria sempre) ser analisada de uma forma racional, coerente e, na medida do possivel, livre de pre-conceitos.
Eu nao vi o filme mas a minha filha numero 4 assistiu e disse que eh muito bom!
E eu nao li essa porrada de comentarios que esse post gerou mas parece que o pessoal gostou do post... Bao tb.
Tanx anyway Silvio! E realmente eu acho que um ponto de vista analítico sobre a arte é bem vindo!
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