quarta-feira, 26 de setembro de 2007

90 Minutos Preciosos e Perdidos I - Cama de Gato

Crio essa série na intenção de demonstrar como um ser humano pode perder horas preciosas de sua vida assistindo lixo. Pode ser também, que, quem me lê saiba dos perigos que podem rondar ao espectador de certos filmes, e, desde modo, deixar de assistir uma bela porcaria. Estou falando sério, muito sério. Certos filmes tem a capacidade de nos fazer sentir envelhecendo, literalmente, você se sente morrendo, "eu estou deixando de viver a cada momento que esse filme continua". Portanto, é no mais nobre espírito de solidariedade que escrevo essa série.

O primeiro filme analisado é uma pérola do cinema nacional. Pouquíssima gente assistiu essa joça, graças a Alá. Chamado Cama de Gato, me lembrou na hora do programa infantil que passava na Manchete, lá no paleolítico.
Todo mundo hoje em dia adora fazer filmes sobre adolescentes e sua rebeldia incondicional+ violência + amoralidade + etc + talk-to-the-hand. Não que esses filmes sejam ruins, muito pelo contrário, vide Elefante e Ken Park. Mas francamente, Cama de Gato é o fim da picada! Pra encurtar a história, o filme foi rodado nos moldes do Dogma 95, e eu só queria perguntar ao diretor: Você por acaso já assistiu Italiano Para Principiantes meu filho? As pessoas realmente acham que só porque o filme é Dogma 95 a fotografia tem que parecer com a filmagem do meu celular? Italiano para Principiantes tem uma fotografia maravilhosa, mesmo sem usar recursos de iluminação, lentes especiais e o diabo a quatro, como reza o cânom do Dogma 95. Em Cama de Gato, numa cena ridícula num lixão, o céu atrás dos personagens muda a todo instante. Tsc, tsc, que porqueira hein? Fica claro que filmaram por volta das 5 da manhã, quando o dia já está nascendo, só que ninguém quis repetir cenas não é? 'Pra quê? Num vamos repetir amanhã não! Tá todo mundo cansado, vamos terminar essa merda logo!" Lógico! Sendo assim, é bem interessante ver num plano o céu escurinho no fundo, e no seguinte os primeiros raios de sol, depois em outro, opa, escurinho de novo, e depois, raio de sol. E assim vai.

Sem contar a história né. Francamente. Tá, vou dar um resumo. Três amigos, classe média paulistana, completos idiotas. Estupram uma colega e 'acidentalmente' matam a pobre. No caminho quixotesco de ocultar o corpo acabam matando a mãe de mentirinha do Caio Blat também. Tem problema não, não precisa ficar com dó, depois de uns 5 minutos eles esquecem completamente disso e conversam animadamente sobre outras coisas. A melhor parte, inclusive, é quando os três gênios resolvem desovar os corpos no lixão da cidade e conversam no caminho sobre as imposturas da igreja católica. Com direito a discurso e tudo. Nem parece que são três adolescentes escondendo dois corpos que eles acabaram de matar né?

Calma, ainda fica melhor. Quando estão prestes a se livrar dos dois corpos um intruso aparece. Um minuto de sua atenção. Segundo relatos, o diretor Alexandre Stockler 'pesquisou' as ações que os personagens do filme deveriam tomar, perguntando a jovens na 'balada' e analisando suas respostas (acho que vou tomar um banho depois de escrever essa frase, pra me sentir puro novamente). Agora voltando para o filme: você está desovando o corpo de uma garota que você estuprou e matou, e o corpo da sua mãe, um intruso aparece na escuridão do lixão, o quê você faz? Logicamente que mata o intruso. Cama de gato, sacou? Sacou? Os personagens vão se enrolando, sacou? Sacou?

Isso só serve pra provar que, se essa solução foi elaborada por jovens reais, o filme é um retrato fiel da juventude brasileira. Tanto os jovens ficcionais quantos os reais são imbecis completos!
Além de tudo tem bastante cena de sexo pra chocar, violência, e, claro, temas socias! Os tão queridos temas socias, figurinhas cativas no cinema nacional, e que tem a irritante mania de aparecer dessa forma mesmo, como temas. Sempre na forma de discurso e nunca na forma de ação. Porque, afinal de contas, as pessoas vão ao cinema para ver outras pessoas falarem durante 90 minutos, certo? Nada como pagar 10 reais para assistir uma palestra. A propósito, existe uma caracterização para filmes assim nos EUA, são chamados talking heads, ou, cabeças falantes. O típico filme onde os personagens só falam, falam, falam, e acima de tudo, não deixam nada para você ver, eles explicam tim-tim por tim-tim tudo o que está acontecendo no filme e dentro deles mesmos.

E Cama de Gato, em sua cena final (que vou contar agora mesmo, já que o filme é uma merda total e não quero que ninguém veja, portanto, não considero isso spoiler) mostra exatamente isso: os três personagens principais conversando com Deus ou sei lá o quê, com cabeças flutuantes, sendo eximidos de toda a culpa da história. Sendo mimados. Um final perfeito para uma pérola do cinema nacional. Abaixo, um trecho do filme com uma das músicas usadas na trilha, igualmente horrível por sinal.

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