
Me peguei pensando sobre ‘Um plano Brilhante’ – um filme não tão brilhante quanto o próprio título – mas que me fez pensar sobre a ética dos ladrões de banco cinematográficos. Essa ‘profissão’ tende sempre a ter um glamour muito especial no cinema. É um dos poucos casos em que torcemos desde o princípio por um contraventor, um criminoso que é muito facilmente simpático ao público. Diferente, por exemplo, de tornar simpático, ou ao menos aceitável, para o espectador personagens principais que degustam outros seres humanos, como é o caso de Hanibal Lecter. A tarefa de criar empatia entre o público e um criminoso é sempre muito complexa para um roteirista, mas no caso dos ladrões de banco parece automático, o público logo se identifica com eles.
‘Um Plano Brilhante’ não é o único caso. Mais recentemente temos o exemplo de ‘O Plano Perfeito’ do Spike Lee – esse sim um filme brilhante – além das infinitas crias de ‘Ocean´s eleven’, mas, puxando pela memória, você talvez se lembre que isso pode remontar a ‘Uma rajada de balas’ (Bonnie and Clyde) de 1967!(Lembrando também que ‘Ocean’s Eleven’ é uma refilmagem de um longa de 1960). O fato é que ladrões de bancos (ou cassinos, museus, etc) tem uma aura em torno de si, justificando a freqüente demanda de filme para esse nicho específico, e fiquei pensando no motivo disso.
Acho que em filmes como esses a esperteza dos personagens principais salta à vista do espectador, aparece como figura central num fundo, onde o próprio roubo é secundário. É como o personagem de Clive Owen diz bem no princípio de ‘O Plano Perfeito’: “Por quê? Porque eu posso”. E é a mais pura verdade, quando uma personagem demonstra uma mente extremamente engenhosa, ela é capaz de fazer o público duvidar da validade das leis aplicadas àquela personagem. O público não tem outra alternativa a não ser pensar “Genial!”. Quando os ladrões são capazes, além de tudo, de realizar seu roubo sem portar em nenhum momento uma arma, ameaçar a vida de ninguém ou de entrar e sair sem serem vistos, aí a emoção do público é ainda maior, e torcemos pelos ladrões. Na vida real também é assim, acredito. Basta lembrar dos ladrões que entraram numa agência do Banco Central em Fortaleza, em Agosto de 2005. Os comentários sobre o caso foram enormes, muitos deles exaltando a inteligência dos ladrrios sobre o caso foram enormes, muitos deles exaltando a inteligões.
Verdade seja dita também, o roteiro na maioria das vezes dá uma ajudinha para os ladrões. As pessoas de quem eles roubam são sempre bancos - aqueles lugares detestáveis que ganham dinheiro enquanto você passa horas nas filas -, ou de pessoas igualmente detestáveis. Em ‘O Plano Perfeito’, Clive Owen e sua equipe roubam um banco, que pertence a um velhinho muito distinto, mas com um segredo horrível. Em ‘Ocean´s Eleven’ a turma do George Clooney rouba um dono de cassino que é um sujeito nada agradável. Como simpatizar com pessoas assim? Melhor simpatizar com a esperteza dos ladrões, não? Já que o cinema promove essa realização de fantasias, na segurança do sofá da sua casa.
Uma outra coisa que me ocorre - baseada em algo que li alguns anos atrás sobre histórias em quadrinhos de super-heróis (mas já não me recordo de quem escreveu) - é o argumento que criticava histórias de super-heróis dizendo que se alguém pudesse dispor de poderes fora do normal, sempre usaria esses poderes para benefício próprio. E não é difícil concordar com essa afirmação. Ela se aplica muito facilmente aos filmes de roubo também. Ao invés de tecer uma crítica à glamourização dos ladrões de banco, eu proponho que esses filmes contam uma bela verdade. Quem dispõe de habilidades elevadas, só as usará para benefício próprio, deixando os outros reles seres humanos nas filas de banco. As habilidades que aparecem nos filmes é que tendem a ser um pouco exageradas, mas de vez em quando a realidade mostra que também é capaz de produzir algumas coisas extraordinárias, como é o caso do roubo do Banco Central. Pois bem, o que quero dizer é: esses filmes na verdade revelam que a natureza humana é egoísta e engenhosa, qualquer um que consiga se colocar num degrau mais elevado vai usar suas habilidades para conquistar mais.
A questão de se isso é benéfico ou não para a sociedade - cuja resposta é bem óbvia - não interessa nessa discussão. Meu ponto é que mesmo os filmes mais toscos sobre assaltos à banco revelam um nervo exposto da natureza humana.

Filmes sobre assaltos:
O Assalto - (D. Mamet, 2001)
Trapaceiros - (W. Allen, 2000)
Matadores de Velhinha - (J. e E. Coen, 2004)
Um Plano Brilhante - (M. Radford, 2007)
A Cartada Final - (F. Oz, 2001)
Uma Saída de Mestre - (F. Gary Gray, 2003)
Thomas Crow - A Arte do Crime - (J. McTiernam, 1999)
A Senha: Swordfish - (D. Sena, 2001)
Filmes sobre assaltos que são excelentes:
Cães de Aluguel - (Q. Tarantino, 1992)
O Plano Perfeito - (S. Lee, 2006)
Onze Homens e um Segredo - (S.Soderbergh, 2001)
Alguém tem mais sugestões?