segunda-feira, 12 de maio de 2008

Speed Racer


Assistindo a trilogia Matrix fica bastante claro que os Wachowski não são uma dupla de diretores que se preocupa muito com a realidade. No máximo poderia se dizer que a realidade é um irritante obstáculo que precisa ser violado em seus filmes. Speed Racer é mais uma prova disso, e é bom que o espectador tenha isso em mente quando entrar na sala de cinema.

Speed Racer é a adaptação do famoso Anime homônimo da década de 60. Narra a história de Speed Racer, um piloto de corridas que perdeu o irmão num acidente misterioso e tem que enfrentar o antagonismo de Royalton (Roger Allam), um poderoso mafioso e empresário do ramo automobilístico que quer Speed Racer em sua equipe de corridas a todo custo. Contrastando a animação ‘estática’ e tosca do desenho original os irmãos Wachowski escrevem e dirigem um filme onde a ação e a direção de arte comandam.

É claro que o filme vem sofrendo acusações de todos os lados. Cores demais? Realizações absurdas demais? Entretanto, nenhuma dessas acusações pôde me impedir de achá-lo um filmaço. Afinal de contas, não se trata de um filme sobre corridas, trata-se de um filme de corridas num universo paralelo, o universo dos Wachowski, onde a realidade é persona non grata. E desde quando cores demais são um problema? É só pensar em Tron e A Fantástica Fábrica de Chocolates, outros dois filmes que também se passam em realidades paralelas.

A única questão é saber se as cores assumem um papel primário e ofuscam o geral do filme, e de modo geral eu responderia negativamente a essa pergunta. Elas são usadas para referenciar o berço de onde o longa saiu, os Animes, para transformar o filme num desenho vivo. Mas confesso que em alguns pontos foi difícil distinguir na tela o que acontecia.

O problema é que essa questão também passa pelo conceito de verossimilhança, abandonado pelos irmãos. Assim, é notável perceber no filme como corpos decepados por acidentes automobilísticos são substituídos por saltitantes bolinhas coloridas, e as cidades mais se parecem com uma Tóquio trezentas vezes mais abarrotada de néons. Desta forma fica claro que perceber os mínimos detalhes de uma corrida não era o foco.

Fica evidente também a coerência dos irmãos ao retratar as temáticas de seus filmes. Como se trata de um filme sobre corridas, todo e qualquer conflito é resolvido, ou tem ressonância na pista de corridas. Além disso, se ninjas brotam do nada e soam estranhos no meio do filme, basta lembrar que os Wachowski retratam as próprias corridas como uma batalha, literalmente. Nesse filme os carros não se digladiam apenas na dimensão do eixo x, mas também na verticalidade do eixo y, saltitando e dando piruetas no ar. A gravidade sempre foi muito inconveniente mesmo.

A orquestração do elenco também é muito boa. A vantagem de escalar atores prestigiados e consagrados se mostra eficiente em mais níveis do que somente conclamar o grande público para as filas do cinema. Atores da envergadura de John Goodman e Susan Saradon sabem não ceder a exageros, um risco grande nesse tipo de filme. E Emile Hirsch mais uma vez prova que é um dos maiores de sua geração. O garotinho Gorducho e o macaco Zequinha são um show a parte, me levando as gargalhadas sempre.

Por fim devo dizer que Speed Racer obviamente foi concebido para as famílias e as crianças, mas não é tarefa tão fácil para a molecada. A seqüência inicial, que mistura ações de vários pontos da linha do tempo da história, pode ser meio confuso para os pequenos. Entretanto oferece um deleite para os mais velhos.

Outra consideração, voltando à questão do uso dos efeitos especiais, diz respeito ao ‘raccord’, se posso colocar dessa maneira. Se próximo ao nascimento do cinema pairava a discussão sobre qual o melhor tipo de edição, uma que mostrasse toda a artificialidade do cinema e outra que escondesse as ‘pegadas’ da linguagem cinematográfica do público (o raccord), arrisco dizer que hoje em dia essa questão endereça-se aos efeitos especiais. É muito comum ouvir que os efeitos especiais são bons quando usados com parcimônia e contextualizados. Eu mesmo já afirmei tal coisa algumas vezes, os efeitos não devem aparecer, eles apenas devem tapar os buracos das insuficiências técnicas da filmagem convencional. Mas quem disse que tem que ser assim? Talvez esse filme possa ser enxergado como uma tentativa de mostrar o outro lado. Vamos esfregar efeitos especiais na cara do espectador logo no começo, e aí? Talvez a conclusão não seja das melhores, talvez os efeitos devam mesmo ficar no quartinho de empregada, mas isso só o tempo dirá.

12 comentários:

Rodrigo Fernandes disse...

Eu não assistia esse desenho, por fi nem tenho tanta expectativa em ve-lo.. mas não curti muito o 'clima' do trailer, achei mutio fantasioso... e parece, pelo que li dos eu comentário, Daniell, que parece ser mesmo muito fantasioso esse aí... eu não curto mutio esses tiposd e filems, mas devo ve-lo mais mesmo por se tratar de ser no cienma, com qualdiade de som, imagem grandona, hehehe... talvez assim seja uma experiencia até interessante...
ah, to pelo menos mais animado depois de todas as luas que vc deu a ele... mas,c araca as 5 luas foram pra ele.. não foi o fã do desenho e o cara nostalgico falando mais alto, ehhee
abraços!!!

Daniell disse...

É Rodrigo, ao contrário de você eu curto muito filmes fantásticos desse jeito. E relamente não sou nem um pouco fã do desenho, e olha que eu adoro desenhos! Eu trabalho numa empresa de desenhos animados! Mas o desenho do Speed Racer pra mim é o fim da picada, é 'inassistível', mas curti muito o filme!

Dr Johnny Strangelove disse...

Com certeza ... rumo para ser um filme cult e subestimado do ano ... anote essas palavras ...
abraços

Isabela disse...

Eu era apaixonada por esse desenho, e tenho grandes expectativas para o filme. Nem tanto pela equipe, ou qualquer coisa, mas poruqe realmente sempre gostei da historia, e acho que devo gostar bastante do filme. Porém sou meio cetica com essas adaptações de desenhos, HQs, etcs.

Kamila disse...

Eu também gostei muito desse filme. Achei muito divertido e extremamente bem executado. O uso de cores berrantes foi perfeito e as cenas de corrida são sensacionais!

Anônimo disse...

Wow! Dos blogueiros, é a primeira crítica que realmente se apaixonou pelo filme! Apesar da Kamila ter o aprovado bastante. Agora fiquei com vontade de ver. Ta dividindo bem as opiniões...veremos.

Ciao!

Pedro Henrique Gomes disse...

Ainda não vi, Daniell. Creio que não o verei no cinema, pois morro de medo que esse filme seja fraco.

Abraço!

Anônimo disse...

Decepção.Roteiro mal costurado, elenco com nomes de peso para dar credibilidade ao filme ( o que não ocorre) e corridas tão frenéticas que exageram no senso de disputa automobilistica. Pena, mas não decola.Tbm fiz comentários. Veja lá. Abcs
http://e-motionmovies.blogspot.com

Anônimo disse...

Vou ver o filme por causa do seu texto hein! Depois t digo o q achei.

Daniell disse...

Ops! Olha a responsabilidade.... to cruzando os dedos pra voce gostar! :)

Anônimo disse...

Oba! Mais um que deu 5 estrelinhas (no caso, luas) para Speed.

Também adorei o elenco (especialmente Sarandon, Goodman e Ricci. E Foxx também), e até mesmo Hirsh está bom. Ele é perfeito como um ingênuo.

PS- Adorei o "efeitos no quartinho de empregada"! Ri muito!

Daniell disse...

Uhuuu! mais um do time que gostou de Speed Racer!! Estamos crescendo galera!