Caro sr. Shyamalan,
É sua melhor direção de atores também, em minha opinião. Portanto, para mim, Corpo Fechado não está um degrau abaixo de O Sexto Sentido, e sim um degrau acima. Mas depois dele tenho que reconhecer que os críticos tem certa razão. Não dá para segurar. Tá certo que Sinais também tem um elenco muito bacana e os planos e decupagem são bonitinhos, mas sua mania de finais surpresas conseguem acabar com tudo, criando uma conclusão que é exterior aos eventos dramáticos principais da narrativa. A Vila eu já gosto um pouco mais, é bonitinho e, novamente, o elenco é bastante eficiente – notou como eu elogio o elenco sempre até aqui? Isso vai mudar – mas mesmo assim não tem o brilho dos filmes anteriores. Em A Dama da Água é que a coisa começou a degringolar. Acho que você ficou arrogante Shy (dá pra te chamar assim? É que Night é muito estranho).
Aquele negócio de matar o crítico é até engraçadinho, e pode distrair o público. “Não, ele não quis revelar todo seu ódio dos críticos, foi só uma galhofa, uma brincadeirinha, nada demais”. Fosse esse o único indício do seu grande ego, passaria batido. Mas, quando você escolhe representar – mal e porcamente - um dos papéis principais, um cara que, literalmente, tem o destino de salvar o mundo, aí não tem como segurar a platéia enfurecida, Shy. E olha que eu até gostei de A Dama da Água, eu gosto desse clima de fantasia urbano, sério mesmo, eu gostei. Até aqui não foi tão difícil, se seus filmes já não tem o mesmo brilho de O Sexto Sentido e Corpo Fechado, eles, pelo menos, estavam acima da maioria dos filmes blockbusters americanos.
Mas Fim dos Tempos foi difícil de engolir cara. Só li uma crítica positiva, o cara dizia que tinha sido o melhor filme que ele tinha visto esse ano, dá pra acreditar!? Se ele não fosse brasileiro eu podia apostar que era sua mãe. Mas ele também é do tipo que odeia todos os filmes que os críticos e público adoram e ama todos os que eles odeiam. Sabe aquele tipo “o filme representa um ataque niilista contra a transgressão política do status de sujeito pós-moderno de sexualidade beligerante”? Pois é, desse tipo. O tipo que entra com projeto de dissertação de mestrado procurando o status de auteur de Michael Bay.
Mas falando sério, nós, os seres humanos normais, detestamos seu último filme. Ok, eu vi gente dizer que ele não é tão ruim e que tem aspectos interessantes. Eu até considero isso pertinente, afinal, mesmo os filmes de Ed Wood são interessantes em algum nível, nem que seja pela bizarrice. E por isso eu volto a questão: o que aconteceu? Você deixou de se importar, foi isso? Cansou dessa babaquice de dirigir atores e deixou-os soltos como colegiais encenando uma peça de escola? Disse “Não quero mais essa merda de escrever diálogos bons!” e resolveu criar pérolas expositivas como “Eu também não gosto de expressar meus sentimentos”? A melhor, no entanto, foi “Não pegue na mão da minha filha a não ser que você esteja falando sério” – Nossa, eu estou dando risadas só de lembrar.
E que tal o susto dolby 5.1? Não conhece? Mas você usa nesse filme! É simples, com ele é fácil assustar a platéia, é só cortar subitamente usando ao mesmo tempo um estalo gigantesco na sala de proteção, desse jeito a platéia fica assustada até quando está assistindo Cantando na Chuva, in-fa-lí-vel! É isso que você usa na seqüência da cabana, aliás, o que foi aquilo? Você percebeu subitamente na sala de montagem que só tinha material pra um média e resolveu filmar mais umas cenas? Porque aquilo é outra história meu caro, muito diferente da que você tinha se proposto contar. A propósito, essa seqüência me lembra muito Louca Obsessão, um filmaço, assista um dia, aposto que você vai aprender alguma coisa.
Uma das mancadas mais fabulosas do roteiro também é o fato que não damos a menor pelota para os personagens principais, de tão chatos que são. Eu queria que Zooey Deschanel morresse logo. Até a criança da vez você conseguiu estragar, porque aquela menininha foi difícil de aturar também. E as criancinhas dos seus outros filmes são tão bonitinhas e legais.
Eu admito que essa tentativa de tentar melhorar a recepção do filme com estratégias de marketing pode funcionar. Mas pegou super mal essa coisa de você ficar falando que seu desejo era fazer um filme B. Acho que você deveria ter seguido a linha de fazer referência e não copiar literalmente filmes B, como, por exemplo, o A Prova de Morte, do Tarantino. Um filme excelente que é baseado em filmes B. Percebeu a diferença? Não é necessário fazer um filme ruim para reverenciar filmes ruins e antigos.
Será que filmes sem plot twist são sua fraqueza? Será que os finais surpresa estão para você assim como as madeixas estão para Sansão? Devo lhe chamar de o Sansão dos plot twists? Acho que não, porque alguns filmes seus mesmo com finais surpresa não são bons.
Talvez seu desejo era de fazer um filme ruim mesmo, sabe-se lá porquê. Bom, se era esse o objetivo, missão cumprida!
Cordialmente,
Daniell Rodrigues de Castro